Médio do Torino é esperado nas próximas horas, ele que em criança envolvia-se em frequentes lutas, mostrando um difícil temperamento. Das noitadas ao peso a mais em Lille, acertou passo na Bélgica, em 2016
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Está iminente a contratação de Soualiho Meité para reforçar o meio-campo do Benfica. Depois e alguns avanços e recuos no processo, Benfica e Torino chegaram a acordo para a transferência do jogador por 6 milhões de euros, que podem chegar aos sete mediante a concretização de alguns objetivos.
Nas próximas horas o médio estará em Lisboa para realizar os indispensáveis exames médicos e, se não houver qualquer contratempo a esse nível, assinar contrato com as águias por cinco temporadas, ou seja, até 2026.
Aos 27 anos, Meité dá outro rumo à sua carreira, deixando um histórico italiano, o Torino - embora há muito que não ganha troféus importantes -, para lutar pelos principais títulos da competição portuguesa. Além da parte financeira, Meité foi atraído pela possibilidade de disputar a presente edição da Liga dos Campeões, competição que o poderá projetar para voos ainda mais altos, chegando a tempo de ser arma para Jorge Jesus preparar a terceira pré-eliminatória da competição, diante do Spartak de Moscovo, orientado por Rui Vitória, e agendada para 4 e 10 de agosto.
Formado no Auxerre, soma passagens por Lille, Mónaco, Zulte Waregem (Bélgica), Bordéus, Torino e AC Milan. Um percurso em ascensão, mas com muitas curvas perigosas pelo caminho, que começou com os primeiros pontapés na bola logo aos sete anos, então em Paris, onde os seus progenitores se fixaram depois de deixarem a Costa do Marfim - o pai, porteiro, e a mãe, doméstica, viajaram com Meité e as suas irmãs Kadi e Sarah, mas a mais velha, Adja, ficou em África.
Depressa se destacou pelo seu físico, e até qualidade, técnica, mas os vários percalços, fruto do temperamento e indisciplina, complicaram a sua afirmação.
Conflitos e discussões até com o "segundo pai"
À beira de assinar pelo Benfica, Souahilo Meité deu início à sua carreira no FC Gobelins, clube de bairro de Paris, e na escola, por volta dos dez anos, quando surgia algum conflito, não se atemorizava e chegava a envolver-se em lutas para resolver as questões. Depois de um ano no Vincennes, deu o salto para o Auxerre, fruto da indicação de Kamel Zaouay, olheiro do clube. Impressionado pelas suas qualidades, admitiu no passado, em entrevista ao jornal belga "Nieuwsblad", que Meité, como criança, era "incontrolável".
"Era completamente desordenado", admitia Zaouay, que, apostado em fazer de Meité jogador, tornou-se como um segundo pai do jovem. "Passou a ser o filho que nunca tive. Era como um irmão para as minhas duas filhas. Houve alturas em que dei mais a ele do que a elas. E ele sabe disso", confessou então. No entanto, os obstáculos foram muitos. "Ele fazia o que queria. Tinha más amizades, mas não se envolveu em drogas nem em roubos", contou, reforçando: "Tínhamos muitas discussões. Se dizíamos para fazer de uma maneira, ele fazia o contrário."
Pressão levou às saídas e Bélgica como bálsamo
A partir dos 16 anos, Meité mostra-se mais disciplinado, o que acaba por lhe valer, mais tarde, o salto para o Lille, que paga três milhões de euros pela sua contratação. Porém, dificuldades de afirmação levam a novo "descarrilamento". "So", como é também conhecido, acusa a pressão do novo treinador dos dogues, René Gérard, e as distrações tornam-se frequentes. As noitadas e as namoradas levam a que acabe, em 2014/15, por cair várias vezes para a equipa B do Lille. E em janeiro de 2016, já com 21 anos, numa altura em que estava até com peso a mais, tudo muda com o empréstimo ao Zulte Waregem, onde o técnico Francky Dury o convence a aplicar-se.
"Frank disse-lhe: "Estás no fundo. Para onde queres ir?"", conta Zaouay, revelando que Meité ripostou com uma forte ambição: chegar ao Manchester United. Das cinzas, o médio renasceu e afirmou-se, acabando por ser contratado pelo Mónaco. Porém, com Leonardo Jardim, não se conseguiu afirmar.
"Do meu lado, fiz o que podia e trabalhei. Sabia que o meu estatuto seria diferente e que tinha de provar o meu valor. Aprendi, até pela televisão e tornei-me mais paciente. Mas não me deram oportunidades", revelou já Meité, confessando-se até "ressentido" com o técnico luso: "Sou um competidor, quero sempre jogar e demonstrar o que sei em campo e não pude fazê-lo."
Do Mónaco, emigrou para Itália e para o Torino, ao qual foi vendido por 11, 5M€. Após duas épocas como indiscutível, foi cedido a meio do ano passado ao AC Milan, que não exerceu o seu direito de opção. Fora das contas do novo técnico do Torino, Ivan Juric, muda-se para Portugal.
Melhor época foi na Bélgica
À beira de experimentar o quarto campeonato diferente ao longo da carreira, Soualiho Meité realizou a sua melhor temporada em 2016/17, na Bélgica, ao serviço do Zulte Waregem. O centrocampista realizou nessa época 46 partidas, finalizando com mais de quatro mil minutos disputados (4010") e com dois golos.
Má experiência na visita ao Dragão
Preparado para ser reforço do Benfica, Meité já defrontou no passado um dos grandes rivais das águias: o FC Porto. No entanto, não ficou com boas recordações dos dragões. Isto porque em 2017/18, em partida a contar para a fase de grupos da Champions, somou pesada derrota (5-2) no Dragão pelo Mónaco. Às ordens de Leonardo Jardim, jogou 66" e saiu com 4-1 no marcador.
Colega de Gil Dias, Rony e Moutinho
Souahilo Meité vai reencontrar na Luz um jogador com quem partilhou já balneário: Gil Dias. O médio foi colega do agora ala-esquerdo, também recém-chegado à Luz, no Mónaco, em 2017/18. Nessa temporada foi companheiro de equipa de mais dois futebolistas portugueses: João Moutinho e Rony Lopes.
Comparado a Ndidi, agora no Leicester
Fulcral na "recuperação" do atleta no Zulte Waregem, o técnico Francky Dury chegou a classificá-lo, em dezembro de 2016, como "o melhor médio da liga belga, juntamente com Ndidi". E comparou-o ao atual jogador do Leicester: "Já o conhecia quando trocou o Auxerre pelo Lille. Comparo-o a Ndidi, são muito semelhantes na posição."
Porta aberta à Costa do Marfim
Com pais costa-marfinenses, apesar de nascido em França, Meité, internacional pelas seleções jovens gaulesas, abriu recentemente a porta à seleção dos Elefantes. "Estamos em discussões, falamos sobre isso. Vamos ver o que sucede", admitiu.