Em pouco mais de 10 anos, a vida de Hélder Silva, de 38 anos, mudou drasticamente. Agora treina os futuros jogadores da seleção chinesa.
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"A China está a investir imenso no futebol. As pessoas estão conscientes de que o futebol precisa de desenvolvimento. E na minha cidade, como é uma cidade pequena [tem cinco milhões de habitantes!], o investimento é menor que noutras. Têm uma forma específica de trabalhar, sabem bem o que querem e quando querem. Deixam-nos fazer tudo nos treinos, são muito abertos, e deixam-nos reestruturar o futebol", conta o treinador, natural de Valongo, que ajuda a trabalhar jovens atletas "para que possam depois integrar a seleção". Na China, a aposta no desporto-rei é séria, com a contratação de treinadores creditados e com condições de trabalho. "Não faltam infraestruturas. Tomara muitos clubes portugueses da I Liga ter estas condições. Os estádios são feitos da noite para o dia e há campos relvados em todo o lado", revela.
O sucesso atual de Hélder esconde uma história de superação. O agora treinador ficou desempregado em 2005 e, nessa altura, pagou mil euros a uma agência para ter trabalho em Inglaterra. Chegado ao aeroporto de Gatwick percebeu o embuste. "Não estava ninguém para me receber. Liguei à agência, mas só depois de umas 50 chamadas me atenderam e deram uma morada. Quando lá cheguei, uma senhora portuguesa abriu-me a porta e disse que não era ali. Comecei a chorar. Fiquei uma semana a dormir na rua", conta Hélder, que nunca revelou a situação à família. Volvida uma semana, arranjou emprego num restaurante italiano e guarida, mas dormia no chão. Do restaurante passou para um lar de idosos, tirou o curso de enfermagem - a juntar ao de Técnico Laboratorial de Análises Clínicas, que concluiu em 2002 - e bateu à porta dos clubes, para jogar e treinar "os miúdos". Apostou na formação, tirou o curso da UEFA B e acabou por celebrar acordo com a ProDirect Academy. Chegou a trabalhar no Crystal Palace, de 2016 a 2018, na Premier League, como scout e treinador de jogadores de sub-18 aos sub-23.
"Estava bem", diz Hélder Silva, quando recebeu "o aceno do desafio chinês". Fez as malas e levou a família. Agora, quer chegar ao final dos quatro anos de contrato e... "Quero ficar por cá. As pessoas são fantásticas", diz.