Davidson pode muito bem ser a cara do Vitória traçado por Ivo Vieira. Agressivo, intenso e rematador, o extremo abre o jogo na primeira entrevista da época e admite que o rumo seguido pode levar a troféus.
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Aos 28 anos, na segunda temporada em Guimarães, Davidson dá sinais inequívocos de uma evolução sustentada e não pretende ficar por aqui, de maneira a dar corpo a sonhos naturais de qualquer jogador.
Há algo de diferente neste Vitória: a equipa está mais ofensiva, parece ser mais intensa e corre muito. Afinal de contas, o que é que mudou?
- Estamos mais ofensivos, sim, e mais objetivos também. Mudou muita coisa em relação à última época. A equipa tinha um estilo de jogo de posse de bola e com muito equilíbrio defensivo e nesta época está mais ofensiva, mas sem perder o equilíbrio a defender. O estilo de jogo varia consoante o treinador. No início da temporada, foi difícil para a equipa adaptar-se a estas novas ideias, porque muitos jogadores estavam habituados a jogar em posse. Confesso que senti dificuldades para me adaptar e só com o trabalho diário, na tentativa de procurar perceber a ideia de jogo do míster, é que consegui encaixar-me no estilo. É um futebol mais rápido, intenso e ofensivo, diferente do da época passada. No fundo, são duas ótimas ideias de jogo.
O melhor futebol da Liga está em Guimarães?
- O Vitória tem mostrado isso, mas infelizmente o futebol baseia-se muito no resultado. Em relação ao jogo jogado, o Vitória está a apresentar uma das melhores propostas de futebol do campeonato.
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Normalmente, o Vitória nunca faz duas boas épocas seguidas. Este ano, essa regra vai finalmente ser quebrada?
- Estamos focados nisso. Temos um bom plantel, o clube dá-nos todas as condições e o foco é fazer igual ou melhor do que na época passada. Verdadeiramente, o foco é fazer melhor. Mesmo em relação à época anterior, a equipa está em mais competições e isso já diz alguma coisa do que se pretender fazer; estamos no bom caminho.
Pode então ser uma boa época para o Vitória ganhar um título?
- Acho que sim. Trabalhamos muito para isso e sabemos que temos a possibilidade de conseguir chegar a um título. Vamos trabalhar arduamente, com a consciência da dificuldade de se ganhar um título neste clube. Mas o Vitória entra em qualquer competição para vencer.
O Vitória é a equipa com mais jogos realizados (17). Como é que os jogadores lidam com um cenário a que não estavam habituados, de jogar praticamente de três em três dias?
- O plantel está recheado com bons jogadores e a equipa técnica sabe fazer essa gestão do grupo. Claro que não posso mentir e não nego que, por vezes, sinto cansaço, algo normal nestas condições; não somos máquinas. No entanto, a equipa técnica tem conseguido fazer bem a gestão dos jogadores e há alguns, peças importantes, que estão lesionados. O jogador que entra faz igual ou melhor do que aquele que sai, pelo que a equipa mantém um bom nível de futebol.
Para um treinador, a rotatividade é uma boa ideia, porque mantém todo o grupo disponível e confiante, mas para um jogador também é assim?
- O jogador é um pouco egoísta e quer jogar sempre. Eu sou sincero: quero jogar sempre. Mas também temos de ter a consciência de que, em determinados momentos, não é possível jogar sempre devido ao cansaço ou a um toque. E os companheiros querem jogar tanto como nós.
Como é que o Vitória ainda pode crescer nesta época em termos de futebol?
- Há sempre margem para crescer. Trabalhamos muito todos os dias para estar mais firmes e focados no tipo de jogo pedido pelo míster. Devido à quantidade de jogos realizados até agora, tem havido pouco tempo para treinar, o que dificulta. Esta paragem é muito importante para o grupo trabalhar as ideias do míster. Temos condições para fazer melhor.
"Quando a bola entrar, vai ser difícil parar-nos"
Davidson não tem dúvidas de que a equipa ainda pode render mais e que, com outro nível de eficácia, podia estar num patamar superior. Jogos com o Boavista, Famalicão e na Liga Europa são exemplos
A postura ofensiva da equipa e as oportunidades criadas não batem certo com o número de golos marcados. Porquê essa diferença?
- Mais difícil seria se a equipa não estivesse a criar oportunidades. Mas claro que temos de marcar mais golos, temos essa consciência; é algo que faz muita diferença. Nos jogos com o Boavista, Famalicão e para a Liga Europa, por exemplo, podíamos ter marcado e não ter sofrido. Vamos continuar a trabalhar para marcar mais golos, de maneira a que a equipa ganhe mais tranquilidade.
Duas boas exibições e zero pontos. O que tem faltado e que ensinamentos é que o Vitória tem retirado da Liga Europa?
- O que tem faltado é a bola entrar. Temos jogado bastante bem, mas sabemos que a Liga Europa é uma prova mais difícil, na qual as oportunidades de golo devem ser aproveitadas; se tens duas oportunidades, tens de marcar, no mínimo, um golo. O Standard Liège e o Eintracht Frankfurt fizeram isso connosco, enquanto nós tivemos oportunidades desperdiçadas, bolas no poste e defesas do guarda-redes adversários. Quando a bola começar a entrar, vai ser difícil segurar-nos.
Não falta também experiência a este nível?
- Eu acho que não. Temos jogadores experientes e não é a experiência que pode ser tão decisiva na Liga Europa, mas sim a eficácia. Se marcarmos um golo, as outras equipas vão abrir-se mais e nós também teremos outras ocasiões para marcar.
Qual é a importância, para os jogadores, de estarem na montra europeia?
- Sendo uma grande competição, é uma possibilidade de o jogador se mostrar. Para mim, foi um sonho realizado, e admito que para outros jogadores também. Temos de dar tudo em cada jogo da prova.
É uma boa maneira de o seu nome chegar ao Brasil?
- O meu nome já chegou ao Brasil na última época, mas não me vejo a jogar lá. Se algo acontecer, tem de ser uma coisa muito boa para o Vitória e muito boa para mim.
"Trabalho para dar o salto"
Extremo já realizou alguns sonhos no Vitória, mas admite que ainda tem planos para cumprir
É um dos jogadores mais utilizados, tem marcado golos e feito assistências. É a sua melhor época?
- Cada época que faço procuro que seja a melhor. Acredito que esta pode ser a melhor de todas; estou a sentir-me bem.
Está diferente em relação à época passada, mais rematador...
- Na época passada, o estilo era de posse, a equipa pegava mais na bola e, dessa forma, eu não estava tão perto da baliza para tentar o golo. Agora é diferente, porque o extremo recebe a bola mais à frente, mais próximo da baliza. Individualmente é muito bom, porque quanto mais próximo estiver da baliza, melhor, posso marcar um golo ou fazer uma assistência. É importante o jogador adaptar-se a cada estilo de jogo do treinador.
E é possível um jogador crescer de época para época?
- Claro que sim. Penso sempre no que posso melhorar e vejo onde falho mais. Após um jogo, no dia seguinte ou até no mesmo dia, vejo-o em casa e analiso o que fiz e o que podia ter feito melhor; só assim se consegue melhorar.
Chegou tarde a Portugal e mais ainda à Liga. Quais são os planos de carreira, ainda há tempo para pensar em outros voos?
- Queria ter vindo antes, mas não deu. Tudo tem um propósito e o tempo foi esse, foi o momento que Deus quis. Também podia ter saído da II Liga mais cedo, mas infelizmente não saí. No Vitória, já realizei muitos sonhos, como jogar na divisão principal, na Europa, em estádios de topo do futebol mundial e também representar um grande clube como este. Tenho 28 anos e estou a trabalhar muito para conseguir futuramente dar o salto.
Que sonhos faltam realizar?
- Jogar na Liga dos Campeões, um sonho de qualquer jogador, frente a atletas de topo mundial. É nessa altura que um jogador fica realizado.
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Pêpê e Sacko contra Ola John...
Quem é o jogador mais chato do plantel?
- É o André André.
Porquê?
- Porque é velho...
Então se pudesse evitar a companhia de um colega durante um estágio seria ele?
- Não, são todos fixes. No Vitória temos jogadores fantásticos, que sabem o momento adequado para brincar e para trabalhar. Um jogador entra neste plantel e fica feliz.
E quem é que se veste pior?
- Pêpê e Sacko.
E melhor?
- É o Ola John, tem estilo.