Riccieli jogava na quarta divisão do Brasil em 2019 e foi operário fabril ou monitor de crianças antes de se tornar profissional
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A vida do brasileiro Riccieli, de 21 anos, começou a mudar quando, em 2016, o defesa-central assinou o primeiro contrato profissional, tinha na altura 17, a caminho dos 18. De origens humildes, o futebol não dava o sustento necessário e Riccieli chegou a entregar panfletos de publicidade de supermercados, mas também foi operário fabril numa empresa de tomadas. Aliás, a bola saiu mesmo da vida de Riccieli precisamente por volta dos 17 anos, quando se juntou a alguns amigos para trabalhar com crianças.
Entretanto, um conhecido assumiu o Resende e a oportunidade de começar a trilhar um caminho mais consistente surgiu, então, pelo clube do município homónimo do Rio de Janeiro, de onde "Ricci", tratado assim pelos amigos, é natural.
Contudo, o sucesso teve de ser conseguido a pulso... e com tempo. O defesa jogou pelas reservas durante quase toda essa época e na seguinte fez uma longa viagem para passar a representar o Mirassol, de São Paulo. Aí, as oportunidades foram em número maior, quer no Paulistão quer na Série D do Brasil. Riccieli pontuou 2018 com três golos e 27 jogos e 2019 prometia ser ainda melhor. O central não falhou uma única partida do Paulista e marcou o golo que garantiu a permanência do Mirassol na I divisão do estadual.
As exibições deram maior visibilidade a "Ricci" e o "Fama" estendeu-lhe a mão da aventura europeia. Riccieli agarrou-a e está a aproveitá-la.
Todavia, o início assemelhou-se um pouco à realidade vivida no Resende, já que o brasileiro só foi pela primeira vez titular no campeonato à 11.ª jornada. Aliás, o defesa chegou a Famalicão quase como um quarto central, atrás de Nehuén Pérez, Roderick Miranda e Patrick William, e nem foi no eixo que começou por contar. João Pedro Sousa olhou para ele primeiro como um lateral-direito improvisado, para fazer face à indisponibilidade de Lionn, mas a participação de Nehuén Pérez no torneio pré-olímpico da CONMEBOL, aliada à contratação em janeiro de Ivo Pinto, "colocou-o" definitivamente no lugar de origem e "Ricci" não desiludiu.
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Olheiros europeus e um desejo tatuado
Um golo e 24 jogos depois, seis como titular na Taça de Portugal e 12 na mesma condição no campeonato, o ex-funcionário da fábrica de tomadas, e que ainda no ano passado jogava na quarta divisão do Brasil, já atrai o interesse de olheiros europeus. Emblemas franceses e turcos estiveram de propósito no Municipal de Famalicão a observar o central, totalista em nove das últimas 11 rondas da Liga e que é agenciado por Deco.
Lateral-direito, central e, inclusive, médio-defensivo, posição onde chegou a jogar no Brasil, um milhão de euros é o preço para início de conversa sobre um jogador avaliado em 450 mil euros pelo portal "Transfermarkt".
Quando há umas semanas o clube publicou um vídeo com Riccieli, onde lhe perguntava o que sonhava ser, o central respondeu "um jogador bem-sucedido". No fundo, a intenção vai ao encontro da ambição pessoal: conseguir uma vida desafogada para poder trazer os dois irmãos mais novos para Portugal. "Família" é a inscrição que Riccieli tem tatuada numa das mãos, mas, nas outras, onde tem mais de 17 tatuagens, figuram as datas de nascimento dos irmãos. O sonho de "Ricci" está a cumprir-se.