"Custa-me ter de explicar ao meu filho o porquê de não poder beber leite"

João Santos pediu ajuda para Luís Tavares, pai de duas crianças
A onda solidária criada por Ibra e Paulinho (Real) e Hugo Machado (Loures) tropeçou em Luís Tavares, do Ponterrolense, que nem dinheiro tem para comprar leite para os filhos.
Segundo dia na estrada em plena pandemia para Ibra e Paulinho (Real Massamá) e Hugo Machado (Loures), trio que formou uma onda de solidariedade que passa por entregar alimentos nas casas de jogadores do Campeonato de Portugal. Alguns já estavam sem receber antes de a covid-19 paralisar o desporto e outros ficaram sem salário/subsídio a partir do momento em que as provas foram canceladas.
Depois de durante a manhã ter estado na casa de Iaquinta (Sacavenense), Hugo Machado recebeu à tarde um telefonema do empresário e amigo João Santos para ver se podiam ajudar Luís Tavares, avançado de 37 anos do Ponterrolense, da I Divisão da AF Lisboa, cuja vida foi devastada pelo impacto económico criado pelo coronavírus. "Empacotei alguns alimentos e encontrei-me com o João Santos", conta Hugo.
O agente dirigiu-se depois à casa de Luís, onde já falta dinheiro para comprar leite para os filhos do jogador. "Trabalhava numa distribuidora e mudei em fevereiro para uma outra que me dava contrato a termo certo, só que o patrão despediu-me com isto do vírus. É mais fácil demitirem-me, porque só estava há um mês na empresa, do que mandarem embora alguém da casa. O Ponterrolense também não vai pagar mais salários neste período e fiquei sem as minhas duas fontes de rendimento. Além disso, a minha esposa está em "lay-off"", conta o cabo-verdiano.
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Pai de uma menina e de um menino, Luís Tavares teve de explicar ao rapaz o porquê de não poder comer o leite com as bolachas de que tanto gosta. "O meu filho pediu-me leite e eu tive de lhe dar chá. Para mim, que sou mais velho, é fácil adaptar-me, mas custa-me chegar ao ponto de ter de explicar ao meu filho o porquê de não poder beber leite", desabafa. "Desci do céu ao inferno", suspira.
A ajuda da sogra sempre esteve presente, mas pedir mais apoio "não foi fácil". "O dinheiro que temos de momento não dá para nada. Não tenho palavras para agradecer a esta malta que se uniu para ajudar os outros", salienta. O dianteiro era profissional na temporada passada, quando jogava no Sintra Football, e deixou de o ser por o vencimento ser curto. "Estava tudo bem até aparecer esta situação, que me tirou os dois salários. Só quero que a pandemia passe rápido", anseia. Luís tem a promessa de voltar a trabalhar quando a economia arrebitar. "O patrão diz que conta comigo assim que puder", revela. Até lá, Luís continuará a lutar contra o drama que o vírus lhe criou.
