Jogadores e treinadores enfrentam a incerteza: receiam perdas nas remunerações e o vazio legal da época mais longa.
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Em Portugal, a suspensão do futebol profissional, na sequência do surto pandémico de Covid-19, remeteu jogadores, treinadores e até árbitros para a incerteza que enfrentam muitos trabalhadores, face ao previsível impacto económico das restrições impostas no sentido de conter a propagação da doença.
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Como em muitos outros sectores, receia-se abusos de entidades patronais pouco escrupulosas ou simplesmente insensíveis às dificuldades de quem vive ou sobrevive numa realidade muito distante da do futebol de elite. As preocupações são recíprocas. No topo da pirâmide do poder, a FIFA anunciou anteontem um grupo de trabalho que estudará soluções para a possibilidade de os campeonatos nacionais se estenderem além de 30 de junho, data em que expiram muitos dos contratos entre jogadores e clubes - e para enquadrar casos como os de Trincão, que a 30 de junho é jogador do Braga e no dia seguinte tem contrato com o Barcelona.
Trata-se de "avaliar a necessidade de emendas ou dispensas temporárias dos regulamentos FIFA sobre o Estatuto e Transferência dos Jogadores, de forma a proteger ambas as partes, assim como ajustar os períodos de registo dos jogadores", explica o organismo presidido por Gianni Infantino, centro da expectativa generalizada.
A incerteza não se esgota nesse capítulo e há angústias a resolver a curto prazo, como ontem fez saber o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), numa nota em que aplaude a iniciativa da FIFA e recorda que a "FIFPro criou dois grupos de trabalho, um sobre os calendários e outro sobre os impactos económicos" do Covid-19. A nível nacional, sublinha a necessidade de preservar a "estabilidade da relação laboral", sem cortes nas remunerações, e apela à criação de um "espaço de reflexão conjunta e consensualização (...) evitando posições de conflito, desorientação e alarme", o tal caldo de incerteza que já se cozinha nos bastidores.
"Não se precipitem a celebrar acordos. Informem-se", apela o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol
A O JOGO, Joaquim Evangelista, presidente do SJPF, admitiu que "alguns clubes equacionam cortar salários, fazem pressões sobre jogadores para que aceitem redução salarial ou anunciam-lhes que irão ser dispensados". O "problema maior" é no Campeonato de Portugal, onde "dirigentes sem escrúpulos comunicam a jogadores em situação de fragilidade, muitos que vivem desta atividade apesar de não terem contrato de trabalho escrito ou registado, que não irão receber, haverá cortes no vencimento ou serão mesmo dispensados". Nos escalões profissionais, criticou o silêncio da Liga para com este sindicato. "É inacreditável como ainda não fomos convocados pela Liga para debater os efeitos desta suspensão, seja ao nível do calendário competitivo, seja quanto ao cumprimento de obrigações", lamentou. "Estranhamos o silêncio", insistiu. "Pretendendo-se soluções consensuais, não ouvir os jogadores é um absurdo. Do que fomos ouvindo, não existe qualquer fundamento legal para afetar o pagamento de salários aos jogadores", adiantou, com um recado claro aos clubes: "Na nossa análise, não estão verificados os pressupostos para recurso ao designado "lay-off" neste sector, que é a medida aparentemente em equação pela Liga."