Também nas restantes nove principais ligas do Velho Continente, constata-se que a decisão passa maioritariamente por dois emblemas, cenário que César Peixoto analisa como "natural"
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Separados por apenas um ponto, Benfica e FC Porto defrontam-se este domingo num clássico que poderá ser determinante nas contas do título nacional. Embora Sporting e Braga ainda tenham hipóteses de se sagrarem campeões, águias e dragões estão mais perto desse objetivo e confirmam uma tendência com quase duas décadas. Desde o início do século XXI, FC Porto (9) e Benfica (6) têm dominado esta competição e a luta a dois não se restringe à liga portuguesa, porque se reflete na maioria das restantes nove principais ligas europeias.
A título de exemplo, no país vizinho, Barcelona e Real Madrid têm dado pouco espaço à glória de outros emblemas, cenário que não espanta César Peixoto. "É natural, porque o campeonato é uma prova de regularidade e as equipas jogam entre si e os vários candidatos não conseguem estar todos na luta até ao fim", afirma o antigo jogador de Benfica e FC Porto. Em declarações a O JOGO, o ex-internacional português considera que há "ciclos" no futebol e, neste particular, os resultados desportivos influenciam a vertente financeira e psicológica dos clubes. Para César Peixoto, no caso português, a estabilidade diretiva é igualmente determinante para o sucesso de uma equipa e o longo período de Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa à frente dos destinos de Benfica e FC Porto, respetivamente, é paradigmático. "Em Portugal, não se pode comprar jogadores por 40 ou 50 milhões. É necessário que além da estabilidade diretiva, os clubes tenham um núcleo de jogadores de referência. Há alguns anos, o Benfica não tinha um leque de jogadores base, ao contrário do FC Porto. Por essa razão, os portistas ganhavam mais vezes. Depois, o FC Porto começou a dar primazia às vendas e deixou de ter aquele jogador à FC Porto, como se dizia", analisa César Peixoto, acrescentando que os encarnados, campeões nacionais nas últimas quatro temporadas, beneficiaram da manutenção de um núcleo duro para discutirem predominantemente conquistas com os azuis e brancos. "Temos os casos de Luisão, André Almeida, Salvio, entre outros, que permanecem, transportam a mística, pois sabem o que é ganhar e no FC Porto isso deixou de acontecer tanto. É preciso olho clínico e uma gestão minuciosa, para não se perderem valores importantes que depois possam fazer falta", destaca.
Leões perderam o comboio
Apenas com um título de campeão neste século. Para César Peixoto, o Sporting "andou algum tempo meio adormecido, com menor investimento, aposta nas camadas jovens e perdeu o comboio" para os dois principais rivais. "Recuperou nos últimos anos, com Jorge Jesus, mas claramente não tem uma estrutura como FC Porto e Benfica. Está a formar para o futuro e como já não ganha há muitos anos, ter de esperar custa mais", analisa o antigo internacional português, que, no seu currículo, entre outros troféus, conta com o título europeu alcançado pelo FC Porto de José Mourinho em 2003/04, sendo campeão pelo Benfica em 2009/10.