Neves é o vice-presidente para a formação, desafio que assumiu há oito anos, e tem os três filhos a brilhar no clube onde se formou como jogador, antes de sair para o FC Porto
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O nome Neves diz pouco às novas gerações que acompanham o futebol. Já para quem anda neste universo há mais tempo, lembra-se dele e associa-o ao FC Porto.
Rui, Catarina e Diogo representam o Aves de formas diferentes: o mais velho é titular da baliza dos sub-23, ela é a primeira atleta da formação nas seniores do voleibol e o último é técnico adjunto
É verdade que tal memória remonta ao início da sua carreira, depois de completada a formação no Aves. Neves foi um lateral-direito que fez uma caminhada segura e com títulos ganhos, agora é vice-presidente para a formação do Aves e pai de três filhos. Todos ligados ao desporto e ao clube avense. Cada um, em função dos seus talentos, vai construindo a sua identidade no futebol e no voleibol.
A Catarina é a mais nova, tem 17 anos. Atenção que aqui não está implícita a primazia às senhoras ou às meninas. A Catarina é especial porque é a primeira atleta da escola de voleibol do Aves a integrar a equipa sénior, que discute o campeonato da I Divisão. O brilho dos seus olhos azuis mostra uma rapariga destemida que se deixou levar pelo "desafio de uma amiga" há quatro anos. A Direção de então reativara a modalidade e na vila as meninas ficaram encantadas e era "uma oportunidade para experimentar". "Já que não tinha muito jeito para o voleibol nas aulas de Educação Física, achei que poderia melhorar." Além disso, Catarina precisa de arranjar uma alternativa ao futebol que "gostava de praticar", mas o pai não era muito de acordo.
Agora é a vez do mais velho, o Rui, que se deixou seduzir pela baliza por influência de Moreira e Quim, na altura ambos guarda-redes do Benfica. "O guarda-redes não tem o mérito que merecia. Tudo acontece muito rápido e nem um segundo temos para evitar o golo. A adrenalina é imensa e quando a bola bate em mim e não entra, é o êxtase", enfatizou o titular da baliza da equipa sub-23 do Aves.
Finalmente, o filho do meio, o Diogo, que aos 18 anos é treinador adjunto dos sub-17 do Aves. Realizou um sonho nascido quando tinha 14 anos. "Vi que ser treinador era mais aliciante do que ser jogador", explica, com ar sério e determinado a seguir os ensinamentos recolhidos "nas boas ideias de jogo de Jorge Jesus e pela forma como lida com o balneário", e também "na atitude paternal de José Mota", ex-técnico dos avenses.
Champions e Liga Europa enchem a casa de emoções e debates
Na casa dos Neves o futebol tem uma função aglutinadora. É no sofá que se sente o gosto de pai e filhos pela modalidade. As competições europeias enchem aquele pequeno espaço da sala com vista para um ecrã do tipo cinematográfico. No sossego do trabalho fica Carla Neves, a mãe. "Às terças, quartas e quintas-feiras juntamo-nos para ver e analisar os jogos da Champions e da Liga Europa", relata Neves. Quem está a ler não percebe a emoção "de orgulho" de Neves pela "união familiar". "É um privilégio ter três filhos assim", conta, a sorrir, revelando que partilhou com eles o cenário da lua de mel de há 25 anos.
Neves e a esposa pegaram na prole para festejar as bodas de prata de casamento e voltaram a Punta Cana, onde a história desta família começou a ser escrita. Rui Neves, o mais velho, achou a surpresa dos pais "superespecial". "Só de pensar que naquela altura, eles tinham a minha idade. Foram para um sítio longe, espetacular para celebrar o amor deles e depois apareci eu", relatou, feliz o jovem guarda-redes.
A competição já não faz parte da vida do antigo lateral-direito. Neves terminou a carreira aos 35 anos e ponderou alternativas, porque "temos mais anos para viver". Agora gere uma cadeia de lojas de ortopedia e produtos dietéticos. Uma área da saúde, talvez influenciado pela especialização da esposa Carla em farmacêutica e que também motivara Catarina a optar por Biologia no Ensino Secundário.
O futebol continua a pertencer ao universo de Neves, que destina as sextas-feiras "aos jogos dos veteranos" e aos jantares sem as restrições dos profissionais da bola.