ENTREVISTA - Causou impacto quando chegou a Paços de Ferreira, mas os maus resultados no início de época, com várias condicionantes, levaram à sua saída. Apesar de tudo, sente-se muito valorizado com esta experiência.
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É a primeira vez que fala sobre a saída de Paços de Ferreira. Assume que as fortes transformações no plantel não o ajudaram, garante que o plantel estava com ele e acredita que o sucesso chegaria com uma vitória.
Três semanas depois de sair, que reflexão faz sobre a sua passagem pelo Paços de Ferreira?
-Tivemos momentos muito bons, a começar pela fantástica recuperação na época passada, em que fizemos imensos pontos em poucos jogos. A seis jornadas do fim a permanência estava assegurada e até podíamos ter chegado à Europa, além de termos valorizado jogadores praticando bom futebol.
A fasquia ficou elevada e nesta temporada as coisas não saíram como planeado. O que falhou?
-Havia uma expectativa muito grande de construir uma equipa com potencial para realizar um campeonato acima do ano passado. Tivemos a dificuldade de perder muitos habituais titulares, como André Ferreira, Maracás, Marco Baixinho, Hélder Ferreira, Nuno Santos, Denilson e o próprio Butzke. Além disso, Gaitán e Luiz Carlos lesionaram-se e pouco jogaram. Entraram muitos jovens que ainda por cima chegaram com atraso. Essa construção tardia do plantel dificultou a nossa tarefa, pois perdemos algumas bases cruciais. Tínhamos a ideia de garantir gente para ajudar, o clube tentou tudo para conseguir os nossos alvos, mas a verdade é que o Paços de Ferreira não tem SAD, não tem investidores e não possui a capacidade de outros clubes, o que conduz a dificuldades no mercado.
Não teve os jogadores que pretendia?
-Queríamos jogadores mais familiarizados com a nossa liga. Podem dizer que Portugal tem um campeonato fraco, mas quem vem, por norma, tem problemas em impor-se. Chegaram muitos jovens, alguns de divisões inferiores, de várias nacionalidades e fora do nosso contexto. Houve ainda contingências dos próprios jogos, como cinco expulsões em nove jogos. Isso condicionou.
Sentia o plantel do seu lado?
-Tínhamos excelente ambiente de trabalho e boa ligação entre todos os departamentos. Chegámos numa fase em que a equipa estava há 13 jogos sem ganhar e as vitórias começaram a surgir. E até poderíamos ter chegado à Europa. Houve uma base que transitou para esta época e quem chegou foi começando a perceber a nossa organização. Desde o dia em que cheguei até ao último segundo senti os jogadores comigo. Acreditavam no que estava a ser feito e nunca os iria abandonar. Fui até onde me deixaram.
Acha que saiu valorizado de Paços de Ferreira?
-Este foi o projeto no qual mais cresci a todos os níveis. É nos momentos difíceis que temos de estar a mil. Não tenho dúvidas que sou hoje muito mais treinador do que quando cheguei ao Paços de Ferreira, pelas adversidades, pela pré-época, pelos resultados e por fazer os jogadores acreditarem nas nossas ideias. Estou mais preparado para qualquer projeto.
"Noutro clube, se calhar, teria saído mais cedo"
César Peixoto afirma compreender as razões para o seu afastamento . "Tudo o que disse o presidente [Paulo Meneses] é factual. Não tinha vitórias e é natural que chegue um momento em que as pessoas têm de tomar decisões. Se calhar noutro clube tinha saído mais cedo, mas os responsáveis percebiam que havia competência no trabalho e que estava a faltar a pontinha de sorte. Com uma vitória o sucesso iria surgir, mas infelizmente não aconteceu. Estou de consciência tranquila, porque dei sempre o melhor", realça o ex-treinador dos castores.
CURTAS
Responsabilidade dividida por dois
Paulo Meneses, presidente do Paços de Ferreira, declinou culpas sobre a construção tardia do plantel. César Peixoto apenas explica como se processa a política de aquisições no clube. "Não é apenas o treinador a escolher, tal como também não é apenas a direção a tomar essas decisões. Há condicionantes económicas a levar em conta e, dentro dos alvos possíveis, fomos procurando atletas que reunissem condições técnicas e táticas para entrarem no plantel. Já estive num clube em que era o presidente a escolher tudo, outro em que era o treinador, mas no Paços é 50/50", diz.
Valorização de vários ativos
Por convicção e também por força das circunstâncias, César Peixoto foi lançando alguns jovens na Mata Real. "É preciso coragem para apostar e não apenas dizer que se acredita nos jovens e quando as coisas correm mal são os primeiros a sair", observa, realçando ainda a promoção de jogadores como "Nuno Lima, Luís Bastos e o ainda juvenil Mauro". Peixoto acredita ainda que Nigel Thomas "poderá ser um ativo importante para o clube a curto prazo".
A torcer pelos amigos
A chicotada no Paços de Ferreira ainda não surtiu os efeitos desejados e César Peixoto apenas deseja "sorte aos muitos amigos" que lá deixou. "Tenho bastante respeito pelos jogadores, pelos adeptos e pelas pessoas do clube. Vejo todos os jogos", confessa o treinador.
Das 8 da manhã às 8 da noite
Desde que deixou a Mata Real, César Peixoto fez uma reflexão com a sua equipa técnica sobre o trabalho realizado. "O futebol é uma aprendizagem constante e quero ter ao meu lado gente que me questione e faça pensar. Entro nas instalações às 8 da manhã e só saio às 8 da noite, porque há sempre trabalho a fazer", salienta.