Carlos Vicens: "Mesmo num ano tão mau, o Manchester City foi 3.º na Premier League"
Como adjunto de Pep, venceu campeonatos e a Champions. Três agrafos na Premier League e um na Champions. Vicens reflete sobre o prazo do tiki-taka
Corpo do artigo
Carlos Vicens é um entusiasta do jogo de posse, sempre se maravilhou com a receita técnica e engenhosa da matriz Guardiola e acabar por trabalhar com o antigo médio dos culés ajudou sorver todos os mais ágeis mecanismos dessa identidade. Ainda para mais, conquistando três Premier League e uma Champions. Recusa que o tiki-taka corra riscos de perder aura, embora, primeiro, condenando essa expressão.
"Pep não gostava disso. As suas equipas sempre foram capazes de mudar de desenho, controlando o centro do campo. Criavam mais oportunidades que os rivais e aniquilavam possibilidades de contra-ataque rapidamente. Tinha muito foco nisso e concedia poucos golos", atira.
"O êxito de Guardiola em Inglaterra foi feito de equipas competitivas e potentes, é ver as poucas ligas perdidas, nunca abdicando das taças, pela sua ética de competição. Já se sabe que quando alguém chega tão alto, todos lutam para o destronar, por resultados ou pressão mediática. Tentar retirar o mérito é inerente à natureza humana. Vamos ver este último ano, o único que não correu bem, marcados por um nível de lesões alucinante, por dois meses em que não conseguimos vencer, sem Rodri... Mesmo num ano tão mau, termina em 3.º, em lugar de Champions, e consegue-se a final de Taça. Se virmos Klopp, de quem se dizem maravilhas e com razão, quando perdeu Van Dijk, ficou abaixo do top-4. Em Inglaterra, numa liga de nível altíssimo, no meio de tantas circunstâncias negativas, o pior City de Guardiola foi 3.º", analisa Vicens, vendo que o ADN Barcelona continua a fazer furor.
"Há um conjunto de fatores que vão das características dos jogadores à carga de competições, ao nível do teu jogador perante o do rival. Mas são os processos que te aproximam da vitória. Vamos olhar para quem venceu a Champions, quem esteve perto de ser finalista, o Barcelona, quem venceu o Mundial de Clubes, o Chelsea, e acho que se encontram semelhanças para Guardiola."
Partilhas de Rúben e Bernardo
Aproveitando o histórico luso no Manchester City, não faltaram diálogos interessantes e auscultações curiosas de Vicens no balneário. "Construí uma relação ótima com todos eles. Falei com eles antes de vir, claro, e vamos trocando mensagens quando chegam ao espaço da Seleção. O Rúben e o Bernardo falaram-me do peso mediático dos três clubes, muito especialmente do Benfica. Atualizaram-me um pouco, elogiaram os treinadores que organizam equipas difíceis de romper. Nas concentrações estavam sempre juntos a ver o Benfica."
Matrimónio nascido no Manchester City
Curioso encontro nos corredores do City com a mulher que viria tornar-se esposa.
O seu encontro de vida com Guardiola também rende o casamento mais íntimo?
-Está certo, acabei por conhecer Guardiola, indo com o meu pai ver o Manchester City, num jogo com o Bournemouth. Nessa viagem, de maneira imediata, também conheci a minha futura mulher, que trabalhava no City, com quem casei e com quem tive dois filhos. De certo modo, ele ajudou-me a conhecê-la.
Memória do Braga no Bernabéu
Vicens fala diferenças profundas entre os ditos grandes e o Braga, reconhecendo um desafio de jogos "muito difíceis".
Com o Braga a levar anos a tentar combater a hegemonia dos ditos três grandes, Carlos Vicens sente também a responsabilidade de ajudar a mudar mentalidades e colocar o futebol mais nivelado a partir do apetite mais furtivo dos minhotos. "Percebes a presença esmagadora desses três clubes nos meios, ocupam quase tudo. Vivendo aqui, consomes esse facto. Sabia do contexto de jogos muito difíceis. O que mais conhecia vinha dos jogos que eles fazem na Europa, do nível que ofereciam com imagem organizada", descreve, não se deixando ficar sobre momentos mais notáveis dos guerreiros. "Recordo o Braga no Bernabéu na Champions e a equipa que disputou a final da Liga Europa contra o FC Porto de Villas-Boas. Sei que o Amorim partiu daqui, e reencontrei o Moutinho, meu rival em Inglaterra."
Confiança nos guerreiros
Vicens está bem documentado sobre Roberto Martínez. "Conheço-o bem, tive a possibilidade de ver o lado humilde e a proximidade que gosta de ter. Fez um trabalho impecável em Inglaterra, mudou a face do Swansea, ganhou uma Taça no Wigan e meteu o seu selo no Everton. Adaptou-se, depois, ao talento da Bélgica, procurou ajustar as estrelas a um rendimento coletivo e acho que é o tem feito em Portugal", realça, confiante em eventuais chamadas de bracarenses. "Jogar na seleção é um marco, algo ao alcance de poucos. Ouvindo que ele citou os nomes do Ricardo Horta e do Lelo é um orgulho, pois fazem parte da sua lista. Estou seguro que anda de olho bem atento aos nossos jovens, porque sei que ele gosta de apreciar as categorias inferiores."