Noventa e um jogos em duas épocas pelo FC Porto foram suficientes para o ex-médio ficar portista para sempre. Em conversa com O JOGO, o futuro treinador explica o que admira, de Iker a Marega
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Dezassete anos depois, Carlos Paredes voltou à Invicta. Por entre a gratidão ao FC Porto, multiplicam-se elogios ao técnico e plantel. O paraguaio esteve no Dragão como adepto pela primeira vez e rendeu-se a Sérgio Conceição. Comendador lembra-lhe o que fazia, mas o resto nem se compara.
Esteve no Dragão como adepto pela primeira vez?
- Sim. Depois de muitos anos, foi maravilhoso poder entrar no estádio e ver toda a gente. Tinha vontade de abraçar todos em forma de agradecimento. Foi uma emoção muito bonita.
Esteve com o presidente?
- Reencontrámo-nos e parecia que tinha sido ontem. Uma receção de um grande senhor, que marcou muito a minha carreira. Estou-lhe muito agradecido, porque o FC Porto abriu-me as portas da Europa. Só me disse que estava sem cabelo, mas continua o mesmo. Demos um grande abraço, falámos da atualidade, do que quero fazer e desejámos muita coisa um ao outro.
"Sérgio é a pessoa indicada para estar muitos anos no comando"
E que tal o estádio. É do tempo das Antas...
- Não pode haver comparação, porque nas Antas o FC Porto conseguiu muitas alegrias a nível nacional e internacional. Esta é outra época. Não quero compará-las, mas não troco o que vivi pessoalmente.
Prefere as Antas...
- Não prefiro as Antas, mas não troco [risos]. É diferente. Este estádio é mais moderno, mas como experiência, naquela época para mim... fico com as Antas.
O que lhe parece este FC Porto de Sérgio Conceição?
- O Sérgio representa mesmo a mística do FC Porto. É um jogador que passou pelo clube, conhece profundamente o que é defender esta camisola. Creio que se sente mais identificado com tudo o que possa ser o clube. E como treinador não tenho palavras. Grande época, tanto no campeonato como na Champions. E isto é o clube. Lutar, lutar até poder vencer. Creio que o Sérgio é uma das pessoas mais capazes que podem estar no comando deste barco, que é muito grande.
É um treinador para ficar muitos anos no clube?
- Creio que é a pessoa indicada para isso.
Acredita que ainda vão ser campeões?
- O FC Porto tem todas as capacidades para conseguir isso. Vai ser uma luta mano a mano. O desejo como adepto é que o FC Porto seja campeão e creio que lhes sobram qualidades para conseguir um novo campeonato, tanto ao plantel e à equipa técnica, como à estrutura.
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Que jogadores destaca?
- [pausa] Vários. Há uma coluna vertebral bem feita, mas a organização, a agressividade para poder recuperar a bola é algo que me impressionou ver ao vivo. Citar nomes é algo que não posso fazer, porque desde o Casillas ao Marega há uma conjunção de jogadores demasiados importantes numa engrenagem que o treinador coloca em marcha para que funcione lindamente. Vê-se em todos os jogos.
Mas tenho de lhe perguntar pelo Danilo, porque jogava na sua posição.
- É o pêndulo da equipa, o equilíbrio, um pouco como eu tinha de fazer também no meu tempo. Mas estes jogadores são muito mais extraordinários, a exigência do futebol aumenta a cada dia e estão preparados para poder ser muito mais. Já são fantásticos, mas agora vão evoluir mais com este conhecimento que tem o treinador.
O Carlos Paredes de 2000 tinha lugar nesta equipa?
- Creio que não. Cada tempo e espaço tem o seu momento. O momento foi aquele, aproveitei ao máximo, desfrutei e vivi ao máximo com jogadores extraordinários, como Deco, Alenitchev, Capucho, Jorge Costa, Aloísio, Vítor Baía, Secretário, Drulovic, Chainho... Não me quero esquecer de algum, porque faziam fácil o trabalho de um jogador. Era muito difícil jogar mal com esse tipo de jogadores. Mas nesta época já não cabia, os que estão lá são fantásticos.
Nem nos deixou terminar as frases: no Dragão a vitória é inegociável. Para tal, muito ajuda a experiência de Casillas, a fazer lembrar Vítor Baía. Mourinho e Fernando Santos foram marcantes
"Só a Taça é amargo, há que ganhar tudo"
Sair do FC Porto antes de uma fase dourada foi agridoce. Mas pior mesmo é não ganhar o campeonato...
Vítor Baía era uma referência, hoje a baliza é de Casillas. A experiência destes jogadores ganha importância nos momentos em que tudo se decide?
- Transmitem uma tranquilidade e uma segurança em todos os aspetos. Uma casa é feita a partir de baixo. Se o cimento é forte, o teto e as estruturas vão estar fortes. Acho que, no seu momento, o Vítor era uma base demasiado importante da casa. Casillas... que posso dizer. É um dos guarda-redes mais importantes que o futebol já viu, pelo que ganhou e pelo que continua a ganhar e a mostrar. A base do FC Porto enquanto equipa com o Casillas ali atrás é fantástica.
Venceu a Taça e a Supertaça mas não foi campeão. Os adeptos cobravam muito?
- É normal. O FC Porto tem de ser campeão. É normal que os adeptos reajam assim. E isso é um bom sinal, é um sinal que ao adepto interessa que o FC Porto seja sempre campeão. Se a um adepto lhe dá igual que a sua equipa seja ou não campeã, alguma coisa não está bem. E no FC Porto há uma só coisa: há que ser campeão. Em todas as modalidades. Se não és campeão, não esperes que as pessoas te atirem flores. Será sempre uma sensação amarga.
Estão na luta pelo campeonato e na final da Taça. Ganhar a ta...
- Há que ganhar tudo!
Mas se não ganha o camp...
- Há que ganhar tudo!
Algum episódio com Mourinho que recorde?
- Como treinador e pessoa aprendi imensas coisas que continuam a servir-me agora na minha vida normal. Foi um maestro dentro de tantos que tive; uma pessoa muito marcante na minha carreira. Ajudou-me imenso e vou estar-lhe eternamente agradecido.
Conversava muito consigo?
- A posição onde jogava era muito "conversável" com o treinador; era quase sempre a que mais se relacionava com ele. E isso aconteceu não só com o Mourinho, com quem sempre tive uma proximidade especial. Fernando Santos foi o meu primeiro técnico na Europa e conversou muitas vezes comigo. No início as coisas não me estavam a correr bem, por causa da adaptação, do jogo mais rápido, do relvado um pouco molhado... Não estava muito habituado a isso. Os dois treinadores foram muito marcantes na minha carreira.
Saiu do clube antes de uma era dourada. Isso entristeceu-o?
- Sim e não. Vir para o FC Porto foi a minha maior vitória. Quando fui para Itália, começaram a ganhar tudo, mas se não tivesse vindo para aqui, não podia ter ido para Itália e seguir uma carreira que acredito ter sido aceitável. Por um lado um pouco triste, mas por outro muito mais fortalecido.
Podia ter feito algo mais no FC Porto?
- Nunca devemos conformar-nos e muito menos arrependermo-nos do que que fizemos. Acho que em cada jogo, em cada treino, em cada coisa que o clube decidiu fazer comigo dei o melhor.