CA recusa árbitros estrangeiros: "Quando alguém achar que não são penalizados..."

Luciano Gonçalves
Lusa
Declarações de Luciano Gonçalves, presidente do Conselho de Arbitragem, e Duarte Gomes, diretor técnico nacional da arbitragem, numa conferência de imprensa do Conselho de Arbitragem da FPF, na Cidade do Futebol, sobre as primeiras dez jornadas da I Liga
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As queixas contra os árbitros são recorrentes, os erros também e criou-se ambiente insustentável no futebol português. Alguma vez se ponderou o recrutamento de árbitros estrangeiros? "Não, de todo, confiamos muito nos nossos árbitros. São reconhecidos a nível internacional com muita competência e, ao contrário de utilizarmos o tema de não termos nenhum árbitro presente em Mundial e Europeus, tivemos os nossos árbitros em finais europeias. Temos árbitros preparados, focados e que querem trabalhar todos os dias para serem melhores. Com Luciano Gonçalves, a presidente do Conselho de Arbitragem, jamais sentiremos essa necessidade, a não ser que seja para dar continuidade ao passado, com intercâmbios de árbitros para estágios, mas jamais sentiremos essa necessidade de ir buscar árbitros ao estrangeiro."
Clima em torno da arbitragem dificulta transformações? "Naturalmente que sempre que o ambiente não é tranquilo, quando é mais envolto em suspeição e crítica, isso não favorece a que os resultados sejam obtidos como pretendemos. Continuamos a trabalhar e sabíamos que isto poderia acontecer, só aconteceu mais cedo do que pensávamos, mas não desvia o nosso foco. Claro que assim demora-se mais a alcançar objetivos e gostaria de mais tranquilidade, mas isso é igual em todos os trabalhos. Se nos derem essas condições de tranquilidade, atingiremos os nossos objetivos mais rapidamente."
O que sente Duarte Gomes sobre o que escreveu Fábio Veríssimo após o FC Porto-Braga e Gustavo Correia após o Benfica-Casa Pia nos respetivos relatórios arbitrais? Que comportamentos querem que os árbitros tenham e quais as penalizações previstas para árbitros que errem? "O que sentimos quando os árbitros dizem a sua verdade no relatório é orgulho e o sentimento de cumprimento de missão. Os árbitros estão deontologicamente obrigados a colocar tudo o que acontece, desportivo e extradesportivo, nos seus relatórios. Quando qualquer árbitro coloca no relatório o que presenciou, sentimos que cumpriu o seu dever. A partir daí, o que sentimos é que isso sai da esfera da arbitragem para a esfera disciplinar, que tem a mesma autonomia do que a nossa. A justiça tem os seus prazos e os seus trâmites e confiamos que prevelecerá a verdade sobre o ocorrido. Não falamos apenas em 'jarras' e não expomos a ninguém que vamos 'pôr um árbitro na jarra'. Os primeiros a saber quando isso acontece são os árbitros, não são os clubes nem mais ninguém. É verdade que temos ativos para gerir e os árbitros muitas vezes sentem que, depois de um jogo com erros com visibilidade, porque muitas vezes não é o erro, é o impacto e a visibilidade de um erro. Um erro num 5-0 tem muito menos impacto do que no último minuto de um 1-0 e os árbitros têm essa noção. A gestão das nomeações nem é para castigar um árbitro, mas para protegê-lo da exposição, porque um mau jogo tem consequências muito difíceis para eles em termos familiares e pessoais, pela inerência cultural do nosso futebol e não expô-los é o mais sensato, mas responsabilizamo-los quando erram. Para um árbitro não é só a não nomeação, é o fator económico pela não nomeação, porque eles recebem bónus quando são nomeados, é a autoestima derrotada por erros que cometeu e a exposição pública. Quando alguém achar que os árbitros não são penalizados, são e muito, tal como os jogadores e treinadores."
