Bruno Paixão diz que não é arguido: "Notícia arrasou-me por completo, é um assassinato público"
Bruno Paixão, antigo árbitro que é suspeito de ter sido subornado pelo Benfica na sequência do processo "Saco Azul", deu uma entrevista à CNN, este domingo.
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Como reagiu à notícia? "Devastadora. Arrasou-me por completo, é um assassinato público, quer a mim aos meus pais e à minha família. Os meus pais estão devastados. Nas primeiras duas noites não consegui dormir, o meu pai foi ao meu quarto."
É arguido? "Para ficar claro, até ao dia de hoje não sou arguido nem testemunha, nunca fui chamado à PJ."
Nenhum contacto do MP ou PJ? "Nenhum contacto. O último contacto foi há um ou dois anos."
Explicação à ligação às empresas de José Bernardes? "Não conhecia o Dr. Luís Miguel Henrique até quarta-feira. Li o artigo e o Dr. Luís fazia uma série de perguntas e eram direcionadas a mim. Tentei logo entrar em contacto com o doutor. O primeiro contacto, e como é advogado experiente que é, não acreditou e quis vir ter comigo para ver os factos que eu tinha. Eu dizia que conseguia responder a todas as perguntas que ele fazia. Quero agradecer por acreditar na minha inocência."
Percurso profissional: "Sou engenheiro de produção industrial. Fiz disciplinas ligadas à qualidade. Estou um bocado nervoso, não estou habituado ao ambiente de televisão. Tive um percurso curto numa das empresas da Autoeuropa, no departamento de qualidade."
Sentia-se capacitado para exercer cargo na tal empresa? "Sim, exatamente. Antes disso, em 2004 sou indicado a árbitro internacional, sou chamado à Direção da empresa e dizem que tinha de tomar uma opção. A minha decisão foi a arbitragem, coisa que amo. Passou-se percurso de internacional, em 2012, por outros motivos, saí, levei um murro. Tive de reestruturar toda a minha vida e comecei a focar-me outra vez na área da qualidade. Atualizei o meu currículo com vários cursos na área da qualidade. O meu advogado, Fernando Ferreira, criou a tal empresa, a Átomos Célebres. Neste processo, recebo um telefonema do José Bernardes para uma entrevista de trabalho, não o conhecia."
Algum dia lhe perguntou como chegou a si? "Perguntei, disse que foi através do currículo. Achei a resposta convincente e não fiz mais perguntas. Se soubesse o que sei hoje se calhar tinha feito mais perguntas."
Quando começa a relação? "Novembro de 2013 e terminou agosto de 2014."
Total de vencimento? "O que recebia na empresa declarado no recibo era 875 euros com subsídio de refeição de 6,41 euros. Tenho todos os recibos, tinha contrato de trabalho. Como sendo auditor de qualidade tenho normas e condutas de ética, não posso divulgar nem mostrar documentos confidenciais. O dinheiro está todo declarado. Foi muito abaixo do preço de mercado. Aceitei o trabalho porque era um projeto para relançar no mercado. Era um projeto que ia dar grande "boost" à minha atividade. Um auditor de qualidade no mercado recebe entre 200 a 350 euros por dia. Trabalhei abaixo do mercado porque era um investimento da minha parte."
Correspondia a que horário? "Entrava às 8h00 todos os dias úteis e saía ao final do dia."
Como conciliava com a arbitragem? "Trabalhava na margem sul, saía às 18h00 e o treino era às 19h00. E treinava muitas vezes à hora de almoço."
Depois de trabalhar na arbitragem parou e olhou para os jogos em que apontavam favorecimento ao Benfica? "Todos os jogos da minha carreira foram olhados de forma imediata. As pessoas falam em erros, chamo oportunidades de melhoria. Cada vez que havia decisão errada da minha parte analisava com os meus colegas a forma que poderia fazer para não acontecer novamente. Sempre analisei."