António Simões, Braz Frade, Gaspar Ramos e José Capristano, antigos dirigentes encarnados, admitem mau momento da equipa e, a O JOGO, mostram alguma desconfiança no presente e futuro.
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A noite de quinta-feira selou o destino do Benfica nas provas europeias desta temporada, com a equipa de Bruno Lage a empatar (3-3) e a ser eliminada da Liga Europa pelo Shakhtar Donetsk. Um afastamento que vem na linha dos mais recentes resultados na Liga, onde as águias esbanjaram seis dos sete pontos que tinham sobre o FC Porto.
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O JOGO convidou quatro antigos dirigentes do Benfica a comentarem a situação atual e há uma comum responsabilização da Direção de Luís Filipe Vieira na política de contratações mas também de Bruno Lage, que começa a ser alvo de críticas após um campeonato ganho com mérito. Menos de um ano depois, o estado de graça e o consenso do universo benfiquista em torno de Lage parece terminado.
Entre os mais críticos está Gaspar Ramos que, a O JOGO, começa por frisar que "o responsável não é só um", dividindo assim entre Vieira e Lage as culpas do insucesso europeu. Mas ao técnico imputa "erros flagrantes que têm de ser avaliados por dentro", colocando "ganhar o campeonato como o grande objetivo" e forma de "se limpar o que tem vindo a acontecer". Palavras reforçadas na dureza à Rádio Renascença. "Precisamos de um treinador de outro nível. Num clube tão grande como o Benfica, é importante que eles [treinadores] tenham uma tarimba e suporte que aguente toda a pressão. Dá a sensação que o discurso do treinador já não passa", frisa o antigo vice-presidente das águias que já vê "o campeonato em perigo".
"Não basta pensar que [Lage] ganhou o último campeonato. Só Vlachodimos disfarça que a equipa defende mal"
Para Braz Frade, também antigo "vice" do Benfica, "a responsabilidade não é só do treinador porque este é o plantel mais fraco dos últimos tempos". "Normalmente, temos um ou dois jogadores de categoria mundial do meio-campo para a frente, como Aimar, Valdo, Miccoli ou Jonas, que são artistas. No ano passado tínhamos Jonas e João Félix, agora não temos nenhum", diz. Para o ex-dirigente, falta equilíbrio. "Quem tem responsabilidade de construir o plantel é a Direção, que apoio, mas não foi muito feliz a fazê-lo porque permanece francamente desequilibrado. O treinador também tem responsabilidade e não basta pensar que ganhou o último campeonato. A equipa defende mal e só Vlachodimos disfarça isso. Se o treinador achava que não tinha jogadores, deveria tê-los pedido no defeso. Mas acho que o seu futuro não está em causa de momento", opina Braz Frade.
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Weigl "não podia ser só mais um", diz António Simões
António Simões, figura das águias enquanto jogador, treinador e dirigente, vê culpas, antes de tudo, em quem decide. "A responsabilidade começa em quem escolhe. No Benfica parece ter havido falta de rigor e alguma leviandade na construção do plantel e dou o exemplo de Julian Weigl, que veio da Alemanha. Não havia mais ninguém para trazer de lá? Custou 20 milhões de euros e não vejo uma relação preço/valor num jogador sem a mínima influência na equipa. Por aquele preço, ele não podia ser mais um. Não se pode ir buscar um jogador por 20 M€ que só faz uma função, que não atrasa nem adianta", critica Simões que se diz "mais preocupado com o baixar de forma notório de alguns jogadores do que com a questão do treinador".
Também José Capristano, outro antigo vice-presidente do clube, aponta baterias a Vieira e a Lage, mesmo com atenuantes. "Há coisas que se podem apontar. À Direção e ao presidente o investimento no plantel, principalmente depois de ter encaixado 120 milhões de euros com João Félix. Ao treinador, as opções que, no meu ponto de vista não se entendem. Porém, temos de reconhecer que Bruno Lage fez, na última época, algo épico e ainda o tenho em consideração e também Luís Filipe Vieira, pela recuperação de um clube que estava de rastos. Não esqueço isso, mas todos devem analisar o que aconteceu e tomar decisões enquanto é tempo pois, na Europa, o Benfica está a desprestigiar-se", realçou ainda José Capristano.