Em entrevista a O JOGO, o antigo avançado diz que só Mourinho ficou feliz quando saiu o Manchester United no sorteio da Champions que acabou por ser conquistada pelo FC Porto. O livre e os festejos...
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A eliminatória com o Manchester foi o clique final para vocês?
-Sim, mas a nossa crença começou quando empatámos contra o Real em Madrid. No sorteio queríamos jogar com uma boa equipa, mas não o United. Mas o Mourinho queria o Manchester. Estávamos no treino quando foi o sorteio e fomos assistir, todos a dizer: ‘por favor, podemos apanhar uma equipa mais pequena...’ E o Mourinho disse, ‘não, não. Queremos o Manchester’. E saiu. Pum, o FC Porto contra o poderoso Manchester United. Pensámos: que diabos? Ele era o único que estava feliz. Todos os outros estavam super nervosos. O Real Madrid foi na fase de grupos, agora era a eliminar, ou estás fora ou dentro. Mas o Mourinho estava muito confiante e isso também nos deixou em paz. Se o treinador estava confiante e acreditava que podíamos ganhar... Isso deu-nos confiança a acabámos por jogar o nosso melhor futebol. Fizemos dois golos no Dragão, depois de estarmos a perder 0-1. Foi incrível.
“‘Pum’, o FC Porto contra o poderoso United. Pensámos, ‘que diabos?’ Mourinho era o único que estava feliz”
Foi o Benni quem marcou. Foram os dois golos mais importantes que fez na Liga dos Campeões?
-Acho que sim, porque não eram apenas os meus golos mais importantes na Champions, mas porque eram também importantes para a equipa, porque estávamos a perder 1-0 em casa contra o Manchester United, mas a jogar muito bem. Seria uma vergonha se não tivéssemos conseguido alguma coisa desse jogo. Estava super feliz com os golos que marquei, consegui ajudar a equipa a ganhar. No geral, como grupo, fomos incríveis e deu-nos ainda mais crença de que podíamos ir Old Trafford, e fazer o mesmo que fizemos no Porto.
E aí surge o livre perto do final, a recarga do Costinha e a correria de José Mourinho...
-Sim, isso já é um clássico. Estávamos fora da Champions por causa do golo que eles tinham marcado no Dragão e que na altura contava. Sabíamos que se marcássemos íamos passar. Mas eles, com a vantagem, estavam a controlar o duelo e nós a tentar reentrar no jogo, mas o United foi sólido, organizado. Até que conseguimos aquele livre. Na altura, quando tínhamos um livre era sempre eu ou o Deco a marcar. Mais perto da área cabia ao Deco por causa do estilo dele, quando era mais longe era eu que marcava porque tinha mais força. Talvez fosse a nossa última oportunidade e só me lembro do Mourinho a correr escadas abaixo no Old Trafford a gritar o meu nome e a pedir ao Bicho para me dizer para bater. Ele correu até mim e disse: ‘Benni, o míster disse para seres tu a marcar’, isto quando o Deco já tinha a bola na mão. Fiquei com um pouco mais de pressão em cima de mim, como não? Só pensava: ‘por favor, bate um dos teus melhores livres para marcar um golo que nos qualifique, senão será um desastre’. Peguei na bola e estava tão focado, juntamente com a qualidade que tinha e a confiança dos meus companheiros, rematei ao ângulo, mas o guarda-redes defendeu para a frente e o Costinha nesses momentos é o melhor, tem um instinto natural para aparecer e ser o primeiro a chegar à recarga. Muitos ficam à espera de ver o que acontece e depois reagem, mas o Costinha ia logo ter com a bola. Chegou antes de todos, o guarda-redes ainda estava a recuperar e fez o golo. O entusiasmo, a felicidade... fomos celebrar e aí chega o Mourinho também, na linha lateral. Old Trafford ficou muito silencioso. Esse foi o momento alto, ver o que significava para os jogadores, para o treinador e para os adeptos que estavam a celebrar connosco. Foi realmente o Teatro dos sonhos, dos nossos sonhos.
“Vamos pô-los a dormir...”
Nas "meias", o Deportivo. Um nulo no Dragão e o penálti do Derlei a dar a final depois de uma ida atribulada para o estádio, com o autocarro a passar por quase toda a cidade...
-Foi de loucos, mas já estava habituado a isso, porque o Celta de Vigo e o Deportivo são os maiores rivais na Galiza, vivi vários dérbis e o ambiente era sempre hostil. Eu avisei-os que ia ser como se fôssemos jogar contra o Benfica, como quando chegávamos a Lisboa. Seria o mesmo, talvez não tão grande, mas igualmente hostil. Quando fomos do hotel para o estádio, meu Deus, os adeptos... Isso fez-nos querer ganhar. Empatámos 0-0 no Dragão, eles pensaram ‘somos espanhóis vamos pô-los na cama a dormir na Corunha, com uma vitória’. Os adeptos procuraram intimidar, mas fomos perseverantes e jogámos muito bem, fomos sólidos e restringimos as ações deles. Praticamente não tiveram nenhuma oportunidade de marcar. Então surgiu o penálti, um penálti claro devo dizer. O Derlei estava em campo e era ele quem costumava marcar. Se não estivesse, seria eu. Mas ele assumiu e marcou. Foi incrível, porque foi um momento de grande tensão. Os adeptos do Depor atrás da baliza a tentar distrair, mas ele manteve o foco, soube ser muito frio. Marcou depois de estar lesionado por seis meses, então, dou-lhe todo o crédito e o meu respeito por ter um coração tão grande e umas veias tão geladas. Atingimos a final e as celebrações foram incríveis no Porto, mas nada como após o triunfo na Champions.