"Benfica tem almofada para passar a crise de forma mais tranquila do que os outros"
Jaime Antunes, economista e ex-candidato à presidência do clube, vê diferenças para os rivais e sublinha o momento bem diverso da era Vale e Azevedo, quando havia "destruição de valor".
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A crise que já está a ser consequência da pandemia pela covid-19 vai deixar marca no futebol, em particular no nacional.
Jaime Antunes, economista, antigo opositor de João Vale e Azevedo e concorrente à presidência do Benfica na primeira eleição de Luís Filipe Vieira (2003) - a quem também já teceu críticas -, apresenta, no entanto, uma visão mais optimista para as águias do que para os rivais. A O JOGO, aponta o Benfica num caminho mais seguro para se levantar desta crise.
"Diz-se que todos os clubes estão falidos mas isso é uma meia verdade: uns estão falidos, outros não estão, uns geriram melhor os tempos de bonança do mercado, outros não. O Benfica tem uma situação bastante saudável e equilibrada", começa por explicar Jaime Antunes, aludindo ao reembolso de um empréstimo obrigacionista de 50 milhões de euros feito na passada semana. "Também vai sofrer, mas entre os três grandes, o Benfica é o clube que está de longe, numa situação financeira mais forte. A liquidação de um empréstimo obrigacionista sem recorrer a outra dívida dá condições para reduzir passivo com meios próprios. Já no Sporting, é conhecida a situação sobre o pagamento de Rúben Amorim e, no FC Porto, são conhecidas as dificuldades com o fair-play financeiro. O Benfica tem alguma almofada para passar esta crise de forma mais tranquila do que os outros", analisa Jaime Antunes.
"Com Vale e Azevedo não havia gestão"
Convidado a ver se encontra paralelismos entre o que resultará desta crise e os danos da gestão de Vale e Azevedo, Jaime Antunes defende que não existem. "Com Vale e Azevedo não havia gestão, era o abandono. Mais do que o que se fala de corrupção, houve uma brutal destruição de valor e a venda de ativos ao desbarato. Quando aparecia alguém com um cheque ele vendia qualquer ativo por qualquer preço. Agora será uma questão de mercado, onde quem estava habituado a vender jogadores por 40 ou 60 milhões de euros terá de se ajustar em baixa. O Benfica parte de um patamar muito bom e não tem nada a ver com Vale e Azevedo", alega.
Sobre o peso de investimentos avultados feitos recentemente em jogadores, Jaime Antunes relativiza: "Um investimento de 20 milhões de euros é menos significativo para o Benfica do que, por exemplo, cinco milhões para o Sporting." O economista também está a enfrentar a crise nas suas empresas (ver peça ao lado) mas, olhando para a realidade do futebol, vê aqui a possibilidade de redimensionar despesas. "Esta crise vai dar um sinal de que isto não vai até ao céu, que as empresas do futebol têm de olhar cada vez mais para os custos. Há gente nas empresas do futebol, que não os jogadores, com salários que não têm nada a ver com o que são os salários dessas profissões fora dos clubes", aponta. Já no plano desportivo, Jaime Antunes aguarda para ver se o Benfica beneficiará com a paragem da Liga: "O Benfica estava numa onda negativa que ninguém percebia bem e pode ter sido bom para as pessoas refletirem, pode ser um balão positivo."