Benfica apresentou na quinta-feira o primeiro Relatório de Sustentabilidade. Confira algumas das declarações de Manuel de Brito, vice-presidente do clube encarnado e administrador executivo da SAD, em entrevista concedida à BTV
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O que tem sido feito internamente nas áreas ambientais, sociais e também da governança? "Efetivamente, hoje [ontem, quinta-feira] é um dia importante, é o Dia Nacional da Sustentabilidade e é o dia em que vamos apresentar o nosso primeiro relatório de sustentabilidade. É um relatório muito completo, é um relatório exaustivo. Os nossos sócios e adeptos nunca viram, de alguma forma - sem ser a dimensão desportiva -, a verdadeira dimensão social, ambiental e de governança do Sport Lisboa e Benfica. Hoje, pela primeira vez, vão ter a oportunidade de ler. Há três documentos, há o relatório, há uma brochura e há um AS IS - já irei explicar mais à frente a diferença entre os 3 -, mas pela primeira vez vão ter a oportunidade de ver verdadeiramente a dimensão do nosso enorme clube. O que temos vindo a fazer? Temos vindo a desenvolver uma estratégia de sustentabilidade. Eu diria que andamos a trabalhar neste projeto há perto de 2 anos. Começámos por fazer um levantamento de todas estas iniciativas, um pouco porque temos de obedecer a um certo número de reguladores que afetam o mundo do desporto, o qual nós temos de cumprir, nomeadamente uma diretiva europeia, e também as exigências cada vez maiores da UEFA no que diz respeito à sustentabilidade dentro dos clubes. Começámos por fazer esse levantamento e deparámo-nos com uma situação extraordinária. Temos já em curso, existentes pela própria iniciativa, pelo próprio ADN do Benfica, mais de 80 iniciativas, mais de 50 do âmbito social, através da Fundação - que tem feito um trabalho extraordinário -, muitas também no âmbito ambiental, até de economia circular, e muitas outras nesta Direção e nesta administração no âmbito da governança. Por isso temos vindo a desenvolver um projeto. O que nós quisemos fazer, de alguma forma, foi alavancar estas 80 iniciativas. Elas estavam todas isoladas, são iniciativas que não tinham por objetivo uma estratégia, mas eram iniciativas um bocadinho avulso, com o seu propósito, obviamente, mas no seu conjunto não criavam valor. Fizemos uma reflexão, e quisemos criar, de alguma forma, um projeto que agregasse as 80, mas que a soma destas 80 iniciativas e de muitas outras fosse maior do que o individual de cada uma."
Por que razão passou a ser a sustentabilidade uma prioridade? E que contributos é que os sócios deram para essas metas? "A sustentabilidade, eu diria que se tem tornado uma exigência e uma prioridade, ou deveria ser em todas as organizações. Eu acho que num clube desportivo essa prioridade é maior, como maior é essa responsabilidade. Isto porquê? Porque o desporto em geral - já volto aqui a falar do Benfica - impacta milhões de pessoas, e tem acesso e pode influenciar, digamos, milhões de pessoas. E o Benfica, aqui, pela sua dimensão, como a maior instituição desportiva do país, uma das maiores do mundo, não só de sócios, mas em termos de modalidades - temos mais de 30 modalidades diferentes, masculinas, femininas, dos pavilhões, de polo aquático, râguebi, artes marciais, enfim, são inúmeras, tanto masculinas como femininas -, o que só por si também nos dá uma responsabilidade adicional pelo número de pessoas que nós impactamos. Por isso, aqui, sim, nós, quando olhámos para este projeto, para estas iniciativas, escolhemos assumir a responsabilidade de querer ser o clube mais sustentável do país e um dos mais sustentáveis da Europa. E vai no sentido do que estava a perguntar dos sócios. Este projeto não é feito só para os sócios, é feito com os sócios, para os sócios, para os adeptos, para os nossos parceiros, fornecedores, entidades com as quais nos relacionamos, mas é feito com eles. Este projeto é feito da auscultação - nós estivemos a auscultar tanto os sócios como os adeptos, como os nossos patrocinadores, os nossos fornecedores, todas as entidades com as quais nos relacionamos. Ao ouvi-los, eles é que nos definiram quais eram os temas relevantes, em termos de sustentabilidade, nos quais o Benfica deveria focar-se."
Metas a alcançar na área da governança. O que pode dizer sobre aquilo que esta direção, neste mandato, tem feito nesse âmbito? "O eixo de que falei há pouco, o eixo Ganhar Bem, é transversal a toda a estrutura do Benfica. Esta Direção, esta administração, desde o primeiro dia, deu uma viragem de 180 graus na abordagem do que são as boas práticas e de governança. Desde o primeiro dia começámos a pôr em prática as recomendações do Código de Governo das Sociedades. O próprio funcionamento do Conselho de Administração, hoje da SAD, segue as regras e as recomendações. Temos um Conselho de Administração com 9 administradores, 4 executivos, 5 não executivos. Temos, neste momento, 4 administradores independentes, 3 dos quais constituíram uma comissão de controlo interna em partes correlacionadas, que fez vários inquéritos internos, nomeadamente sobre as partes relacionadas e os conflitos de interesses, e que fiscaliza, precisamente, essa situação da Comissão Executiva, como Conselho de Administração, que tem como missão fiscalizar a Comissão Executiva. Os regulamentos de funcionamento, tanto do Conselho de Administração, tanto da Comissão Executiva, tanto da Comissão de Controlo Interno, estão publicados no Site. Constituímos um canal de denúncias. Constituímos um departamento de auditoria interna, que não existia. Esse departamento de auditoria interna reporta funcionalmente ao Conselho Fiscal do Clube e funcionalmente ao Conselho Fiscal da SAD. Acabámos, neste momento, de aprovar o plano de auditoria para 2025/26, internamente. Por isso temos aqui inúmeras medidas que vão ao encontro. Uma ótima notícia que guardei agora para o fim: somos o primeiro clube associado ao Instituto Português de Corporate Governance. Isto é mais uma afirmação de que as boas práticas de governança estão para ficar no Benfica. É uma afirmação que queremos implementar. Ainda há melhorias para fazer e contamos precisamente com esta associação, com esta parceria que temos com o IPCG agora, para nos ajudar a melhorar ainda mais as boas práticas de governança."
Este compromisso do Benfica com a sustentabilidade pode chegar a que setores? "Como lhe disse, a consequência imediata do evento que tivemos... A recetividade ao projeto, à estratégia, teve um impacto imediato. Nós, neste momento, já estamos a trabalhar com 10 grupos, 10 empresas, além da Câmara - que também estava presente no evento -, um certo número de iniciativas, seja para apoiar o desenvolvimento e o crescimento da Fundação Benfica, em certas áreas, seja nos temas da mobilidade, seja nos temas do bem-estar, por isso temos aqui inúmeras áreas em que efetivamente já conseguimos convencer um certo número de parceiros de que estar associados ao Benfica nos seus princípios, nos seus valores e no seu alcance, é benéfico para todos. Vamos criar valor, e esse valor vai ser repartido, vai ser em benefício dos sócios, dos adeptos e das comunidades."
Beneficiando da capacidade de comunicação do Benfica para veicular esses temas? "Exatamente. Temos um palco mediático muito grande, e esse palco vai estar ao serviço, obviamente. Nós temos um alcance até 50 milhões de pessoas, e é óbvio que esse palco vai estar ao serviço da sustentabilidade. Uma última palavra para os nossos sócios. Recomendo vivamente que vão ao nosso Site hoje para dar uma leitura, seja no relatório, seja na brochura, que acaba por ser um condensado do relatório. Não tem a vertente tão técnica, é dirigida de alguma forma mais simples, mais condensada, e temos também um terceiro documento, que é o AS IS, que são as 80 iniciativas iniciais com as quais começámos o projeto. Por isso, recomendo vivamente aos sócios, porque eu acho que vão ficar orgulhosos de pertencer a um clube que tem já esta dimensão neste âmbito."