Lucho foi duas vezes campeão correndo atrás do Benfica. Quando a Liga virou, sentiu uma força que nunca mais permitiu marcha-atrás.
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Lucho González foi campeão em todas as épocas que completou no FC Porto. E se, nas primeiras, ainda com Jesualdo Ferreira, andou praticamente sempre à frente do campeonato e até o conquistou com facilidade, no regresso não foi bem assim.
O argentino voltou ao Dragão em 2011/12, com a equipa de Vítor Pereira a cinco pontos do líder Benfica. Terminou seis à frente. Em 2012/13 entrou nas últimas três jornadas da Liga a quatro pontos do rival, mas voltou a celebrar. Numa e noutra circunstância, o momento decisivo da Liga foi... a ultrapassagem. "É um momento decisivo, que dá uma força enorme. No primeiro ano aconteceu a nove jornadas do fim, no segundo ano foi na penúltima jornada. Mas nesse caso, sentimos antes, quando ficamos a depender de nós próprios. O mais difícil no futebol é precisarmos de outros resultados, é estar atrás, ter a pressão de ganhar para o rival não aumentar a distância, mas ver que os jogos passam e o rival não perde...", começa por explicar o argentino a O JOGO.
"Tivemos de fazer o nosso papel, cumprir o nosso dever sem falhar, porque acreditávamos que eles em algum momento iriam tropeçar. Nos dois anos em que vivemos essa situação, o nosso pensamento era essencialmente o de que nós não podíamos falhar. É preciso muita força para aguentar e pensar sempre em nós e na obrigação de ganhar, ganhar e ganhar enquanto se espera. Quando aguentamos isso, o rival perde e passamos para a frente. A viragem é o momento em que tomamos verdadeiramente consciência de que o título está quase e não vai escapar de forma nenhuma. Aconteceu connosco duas vezes. Ficamos a depender de nós e soubemos nesse momento que o título era nosso. A ultrapassagem dá uma força enorme. É a oportunidade pela qual esperamos e não a podemos desperdiçar. Outra coisa que não ser campeão não pode ser...", reforçou.
James meio a dormir e a Luz do poder em 2011/12
Em 2011/12, o FC Porto reassumiu a liderança na Luz, com vitória por 3-2, golos de Hulk, James e Maicon. "Essa passagem, em pleno Estádio da Luz, deu-nos um poder muito grande para percebermos que só dependiam de nós", confirma Rui Quinta, treinador adjunto. Vítor Pereira, o principal, optou por não conversar com O JOGO sobre futebol português. "A equipa estava muito comprometida. O James foi jogar pela seleção, chegou na manhã do jogo, foi para a cama descansar e depois saltou do banco para marcar um golaço que mudou o jogo. Foi fundamental", descreve Lucho.
A estratégia falsa de entregar as faixas em 2012/13
O ano de Kelvin (2012/13) foi muito mais dramático. "Empatámos na Madeira, ficámos a cinco pontos. E estrategicamente o nosso treinador optou por entregar o campeonato no discurso para o exterior. Mas internamente a conversa era outra. Disse-nos que era estratégia, porque acreditava que os adversários do Benfica podiam roubar pontos. No primeiro treino após o tal jogo na Madeira, juntou a equipa e disse claramente que iríamos ser campeões e o que Benfica iria quebrar antes do jogo decisivo contra nós. Quisemos passar a mensagem externa de que já não acreditávamos, para criar algum relaxamento no adversário. Se teve impacto ou não, não sei, mas certo é que isso aconteceu, pois o Benfica ganhou na Madeira, festejou e a seguir nunca imaginaria empatar em casa com o Estoril", recorda Quinta. "Os jogadores estiveram sempre focados. Fomos campeões por causa disso, não duvidem", apontou. "Foi como tirar um pouco de pressão a nós mesmos. Nem o mais fanático dos adeptos acreditava que era possível. Nós sim. Demo-nos como mortos, entregámos as faixas, mas sabíamos que faltava muito e, no íntimo, acreditávamos, porque uma das virtudes que há no FC Porto é saber que é proibido desistir até ao final", concorda Lucho, um dos capitães.
Uma força extra à medida da ambição de Conceição
O desafio para Sérgio Conceição é manter a liderança durante 11 jogos, mais do que as equipas de 2011/12 e 2012/13 tiveram de fazer depois de reconquistar o primeiro lugar. "Conheço a casa, conheço o Sérgio e dificilmente vai escapar. O FC Porto vai encarar cada jogo como uma final", acredita Lucho. "Não conheço os jogadores de agora, mas conheço a vontade do Sérgio Conceição, a sua ambição. Nada está assegurado, mas que esta ultrapassagem dá uma força extra, e um poder diferente, especialmente numa fase em que apenas uma competição se está a desenrolar, é evidente", completa Quinta.
"Temas pouco claros prejudicam"
Lucho percebeu, em 2006, que "há pressões, arbitragens e temas não muito claros que costumam prejudicar o FC Porto". "Agora, com o VAR, as coisas são mais transparentes", congratula-se. Antes nem por isso. "O nosso pensamento era fazer as coisas no campo. Se não déssemos hipóteses aos rivais, ninguém de fora poderia tirar a nossa força", recorda.