ESPECIAL EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO - André Oliveira, médio da formação do FC Porto, explica a O JOGO como concilia o estudo com os treinos e jogos. Tem 17 anos, mas está sob contrato profissional e já alinhou pelos bês dos dragões. O colégio flexibiliza horários para que possa estar bem cedo no Olival. O resto é disciplina e gosto pelo conhecimento.
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É uma vida preenchida com as exigências do 12.º ano em Ciências e Tecnologias e os primeiros passos no futebol profissional, mas André Oliveira, médio de 17 anos do FC Porto, agradece. O relvado alimenta-lhe os sonhos, enquanto a escola o desafia a abrir horizontes e precaver o futuro.
Resuma-nos a sua rotina diária, entre treinos e aulas.
-Levanto-me por volta das 8h15. Temos de estar no Olival até às 9h15 com o pequeno-almoço tomado. O meu avô faz o esforço para me levar. Às 10h30, começa o treino e o almoço por voltas das 13h00. A seguir, vou para a escola, onde fico até às 17h00. Às vezes, depois das aulas, tenho explicações de Matemática e a minha mãe vem buscar-me quando assim é. Quando não é, vou para casa na rota que o FC Porto nos faculta.
E isso implica faltar a algumas aulas?
-A minha turma é composta só por colegas de equipa e o colégio adapta os horários. Também facilitam quando temos estágio ou jogo a meio da semana. Quando falto a demasiadas aulas, no colégio ajudam-me a recuperar matéria. Se um jogo ou estágio coincidir com um teste, faço-o depois.
Onde encaixa o estudo?
-Moro relativamente perto do Porto, então consigo estudar quando chego a casa ou depois do jantar. Não perco muito tempo em deslocações e também não tenho de me levantar muito cedo, consigo adaptar-me bem. Procuro ter o fim de semana livre, mas às vezes tenho de encaixar o estudo ou trabalhos nesses dias.
Consegue planear a semana com antecedência?
-Às vezes tenho algumas surpresas, como esta reportagem, só soube ontem à tarde [risos]. Por norma, consigo planear, mas estou sempre alerta, pode aparecer alguma coisa, como uma lesão que me leve para um jogo sem eu estar à espera.
De que disciplinas mais gosta?
-Até ao décimo ano, não ia muito com a Matemática, mas também era um bocado preguiçoso. Agora começo a gostar mais e a ter mais jeito.
Que importância dá à conclusão do ensino secundário?
-Percebo a importância de acabar o 12.º ano. Os meus pais e familiares dizem isso muitas vezes. Posso não precisar, mas obriga-me a exercitar a cabeça, a pensar e a conhecer coisas que não conheceria se não fosse através da escola. Caso aconteça algo, esperemos que não, é sempre uma segunda via que tenho de deixar aberta.
Então não vê apenas como uma obrigação, ajuda-o a abstrair da pressão do futebol?
-Para uma pessoa com a nossa vida, e não me estou a fazer de coitadinho - é o que é - é complicado conciliar. Mas também consigo perceber o quão importante é. Dá-me um certo gozo, motiva-me e o estudo ajuda a abstrair-me. A minha vida seria um bocado vazia se não tivesse a escola. Centraria-se muito no futebol e não sei até que ponto isso seria bom para mim, que ainda sou um rapaz novo [risos]. Ficaria com uma vida um pouco monótona, era só treino-casa e não seria saudável. É importante levarmos a escola para o futuro, mas também no nosso dia-a-dia é importante pôr a cabeça a trabalhar, estar com outras pessoas. É fundamental socializar fora do contexto do desporto.
Pensa no Ensino Superior ?
-Por enquanto acho um bocadinho difícil. Os meus pais incentivam-me, mas não me consigo imaginar, ainda, a conciliar o Ensino Superior com os treinos. Com a idade a avançar, tenho cada vez mais responsabilidades no clube, já é a minha profissão. Gostava de pensar nisso mais sobriamente.
Raquete e volante nos hobbies
Quando não está a treinar, nas aulas ou nas explicações de matemática, que sente "precisar" até porque aproxima-se o exame nacional, André vira-se para outras modalidades que não o futebol. "Gosto de jogar padel e de ir aos kartings. Vou poucas vezes mas gosto. Também gosto de jogar ténis. De resto, é aquilo que praticamente toda a gente tem, sair com os amigos e estar com a namorada", conta, com uma revelação: "Sou aquele rapaz chato que diz "larguem os telemóveis, estão sempre a olhar para baixo"." Da mesma forma, jogar FIFA só de vez em quando. "Prefiro jogar a sério", sorri.
No Olival bem cedo
Natural e residente em Fiães, André leva cerca de dez minutos a chegar ao Olival, onde tem de estar até às 9h15. Levanta-se uma hora antes e o avô "faz o esforço" para lhe dar boleia. Antes do treino às 10h30, seja com os sub-19 ou a equipa B, tem de fazer "um trabalho muito específico" adaptado a cada jogador.
De boleia para o Dragão
Em vésperas de jogos da equipa B, com a qual costuma treinar, André aguarda pela convocatória, que sai habitualmente perto da hora de almoço. Em todo o caso, através de um autocarro próprio, o FC Porto garante aos jovens o transporte para a Invicta, num trajeto que passa pelo Estádio do Dragão.
À tarde já o dia vai longo
O 12.º ano, com uma carga letiva menos pesada, facilita a rotina e o Colégio Júlio Dinis, perto do Dragão, tem turmas especiais para atletas. Por volta das 17 horas, André Oliveira ouve a campainha e fica livre... se não tiver explicações. O autocarro volta a estar disponível, agora para o levar de regresso a Fiães.