Alan Varela: paternidade inesperada, "homem-invisível" e o elogio depois do castigo
O médio desejado e finalmente assegurado pelo FC Porto esteve a uma unha negra de deixar o futebol, mas, com a ajuda certa, deu a volta por cima. E traz com ele o "carimbo Barça"; O JOGO recuou aos primórdios da carreira de Varela para desvendar uma história de adversidades superadas, que vão da paternidade inesperada, aos 16 anos, a um castigo já como sénior do Boca.
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"Não vou continuar a jogar, pai. Não sei, vou procurar um emprego, vou fazer alguma coisa, mas tenho de me assumir e não sei se vou sair-me bem no futebol". O ano era 2017 quando os sonhos de se tornar jogador profissional desmoronaram como um castelo de areia para Alan Varela.
O médio argentino, que o FC Porto assegurou após longa maratona negocial, tinha recebido uma notícia que, por norma, é das melhores que alguém pode receber: ia ser pai. Só que tinha apenas 16 anos. Não era algo esperado na altura e, decidido a enfrentar a responsabilidade, convenceu-se de que tinha de deixar a formação como futebolista, sem compensação financeira, para procurar um meio de subsistência que permitisse sustentar a família que estava a caminho.
Gonzalo e Patricia, pais de Alan - nomes que tem tatuados no pescoço - insistiram para que o filho não deixasse de perseguir o sonho. Prometeram ajudá-lo tanto quanto possível na educação da neta, Aitana. O Boca Juniors também fez a sua parte: deu assistência social e psicológica, ajudando com fraldas, leite e outros bens para acompanhar a paternidade prematura. Assim, o futebolista, que admirava Fernando Gago e Éver Banega, continuou a vestir a camisola azul e amarela e a colher títulos juvenis: o Campeonato Internacional sub-17 do Evergrande e a sexta divisão da Superliga argentina, em 2018.
Varela tinha começado o percurso no Boca com apenas 9 anos, graças a um treinador fundamental na sua contratação: Jorge Raffo, até há poucos dias coordenador da academia de jovens do Elche (Espanha). Na altura, Raffo liderava um projeto de formação na Argentina que contava com o apoio financeiro do Barcelona e tinha o Boca como elo de ligação local. Os espanhóis financiavam a "fábrica" de onde os "xeneizes" tirariam os melhores jogadores e, depois, o Barça teria prioridade sobre os mesmos. A ponte não se fez, mas o agora reforço portista foi um dos escolhidos de Raffo. E não se enganou.
A montanha-russa até à afirmação total
A estreia na Liga argentina, já como sénior, aconteceu a 20 de dezembro de 2020. "Os meus pais fizeram um enorme sacrifício por mim", reconheceu nesse momento especial, que também dedicou a Aitana. Rapidamente conquistou um lugar no miolo e tornou-se peça fundamental da equipa com 19 anos. Mas perdeu terreno na segunda metade de 2021, com a chegada de Sebastián Battaglia ao leme do Boca. E o pior momento surgiu no início de 2022, quando foi afastado pelo treinador durante alguns dias e trabalhou com a equipa de reservas. O motivo? Faltou a dois treinos e chegou a outro em mau estado, antes de uma deslocação para a Taça. Varela alegou "indisposição gástrica". A equipa técnica não acreditou.
Volvidas algumas semanas, o perdão. E Alan deu a volta por cima: terminou o semestre como MVP da vitória do Boca sobre o Tigre na final da Taça da Liga e comemorou novo título. A partir daí, tudo se encarrilou. O nome de Varela não mais sumiu do onze. Disputou 22 dos 27 jogos da Liga de 2022, que também terminou com volta olímpica, e ergueu a Supertaça argentina já em 2023, ano em que leva 33 jogos. Foi por isso que o Barcelona, clube que financiou os primórdios da sua formação, equacionou Alan como possível substituto de Busquets. Não avançou. No Benfica, também se falou em Varela quando Enzo Fernández saiu. Mas o próximo capítulo será, afinal, de dragão ao peito. E quem sabe se o Barça não ficará arrependido de não ter apostado a tempo...
"Invisível" por estar em todas
Foi já no plantel principal do Boca Juniors que Alan Varela se converteu num médio-defensivo puro. "Não joguei como 5, era médio direito ou esquerdo. Quando subi à equipa principal, ensinaram-me muito sobre a posição e fui-me afirmando cada vez mais", contou o futuro dragão, após alguns jogos como sénior. Na "cantera", destacou-se pela técnica, que lhe foi incutida em criança na tal "clonagem" do método de La Masía. O carimbo do Barcelona ficou bem vincado em Alan. "Gosto muito de ter a bola e de fazer jogar os meus colegas", chegou a dizer. "Homem-invisível" foi, então, a alcunha dada a Varela, que aparecia em todo o lado de forma indecifrável para os adversários. Aquele jovem diamante "xeneize" já tinha "tiques" de veterano, pouco próprios de alguém tão novo. Agora, aos 22 anos, a maturidade estará no ponto.
O elogio do capitão após a dura
Quando Battaglia afastou Alan dos trabalhos do Boca, Darío Benedetto, capitão do Boca Juniors, foi uma das vozes que criticou a conduta do médio, agora reforço do FC Porto. No entanto, assim que o castigo foi levantado e perante uma grande exibição de Varela na final da Taça da Liga, o avançado não teve como não se render à qualidade do companheiro. "Deu-nos o que nos faltava, é um craque, há poucos números 5 que dão um bom passe para a frente", afirmou, depois de Varela dizer que não se sentia... "um craque".