Póquer em Trás os Montes foi o melhor momento de um jogador que, lembra Zé Castro, nunca se notabilizou pelos golos. Por isso, considera que foi errado julgar que alguma vez fosse "fazer 30 por época"
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Onde andava este Adrián López goleador? A dúvida deve ter assaltado muitos portistas em Vila Real, onde viram o espanhol alcançar um póquer inédito no clube e até na carreira. Quatro golos que, mesmo tendo sido obtidos frente a um adversário da Distrital, provocaram algum espanto, uma vez que sempre foi visto como uma espécie de patinho feio. A verdade é que, de acordo com Zé Castro - partilhou com o avançado o balneário do Corunha - o jogador que saltou para as primeiras páginas dos jornais pela proeza conseguida em Trás-os-Montes é exatamente o mesmo. "Não se pode esperar que o Adrián faça 30 golos por época, que pressione o guarda-redes, que se atire para o chão, que passe o tempo a beijar o símbolo... Ele não é um jogador para os adeptos; é um jogador para a equipa", sustenta, a O JOGO, o antigo internacional luso.
"Não se pode esperar que o Adrián passe o tempo a beijar o símbolo"
Contratado em 2014 ao Atlético de Madrid, numa operação em que os dragões pagaram 11 milhões de euros por apenas 60 por cento passe, Adrián López ficou muito marcado pelo insucesso global dessa época. O espanhol só fez um golo em 18 jogos e isso ditou-lhe o destino (empréstimo) nas épocas que se seguiram até à atual, na qual Sérgio Conceição contrariou todas as previsões e deu-lhe uma oportunidade. "O FC Porto é um grande clube, com uma massa associativa exigente, que luta sempre pelo título e, se as coisas não funcionarem rapidamente, as pessoas perdem a paciência. Mas o Adrián precisa de ser acarinhado para poder render ao máximo, porque ele destaca-se pela técnica e pelo facto de saber aproveitar bem os espaços, algo que em Espanha há mais do que em Portugal", sublinha Zé Castro, convencido de que o facto de o ex-colega ser "um jogador frio no relvado" lhe deturpa a imagem.
Os quatro golos na Taça de Portugal permitem a Adrián viver num estado de graça nunca logrado na Invicta, mas isso não alterará a sua personalidade. "Vai continuar a ser a mesma pessoa educada, humilde e fechada para quem não conhece tão bem. Não é de se deixar levar pelo êxito", afiança Zé Castro.
Ídolo para uma povoação mineira
Faça muitos ou poucos golos, há pelo menos uma povoação em Espanha para quem Adrián será sempre um ídolo: San Martín de Teverga. Foi aqui que o asturiano nasceu e que deu os primeiros pontapés na bola, antes de trocar as janelas do bar familiar (Casa Pantona) - para desespero da mãe (Maria Jesús Álvarez) - por balizas a sério no Oviedo. Era o pai (José Luís López), que trabalhava na mina local, ou um dos irmãos quem fazia um percurso de uma hora de carro para que Adri pudesse concretizar o sonho de ser futebolista. Hoje, tem uma rua na localidade com o seu nome e até um torneio de futsal em sua honra, que já vai na 13.ª edição.
Barreira da dezena só foi superada por duas vezes
Adrián não é um goleador - nunca foi - e a prova é o facto de só ter superado a barreira da dezena de golos por duas ocasiões: uma no Corunha (12 em 2010/11) e outra no Atlético de Madrid (19 em 2011/12). De resto, só lá andou perto mais uma vez: na última época, quando fez nove pelo Corunha. Os quatro golos que leva agora pelo FC Porto são, aliás, o quinto melhor registo de uma carreira de 15 épocas como profissional.