A vida deu uma segunda oportunidade a Layún: "Não sabia se ia sair com vida da cirurgia"
ENTREVISTA, PARTE III - De volta ao México, Layún, de 33 anos, espera acabar uma carreira que diz estar a ser como sempre sonhou no América, onde já não acreditava voltar. Ultrapassado o problema de saúde, só quer "desfrutar". Foi-lhe detetado um cancro nos rins, em 2019, e confessa que teve receio de não sair vivo da cirurgia
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Há pouco menos de três anos, o mundo de Layún esteve muito perto de desabar quando foi acompanhar a esposa a uns exames de rotina e saiu de lá com a pior notícia possível: fora-lhe detetado um cancro nos rins. O problema está ultrapassado, Layún voltou ao futebol e aceitou recordar esses momentos de angústia que o fazem olhar para a vida com outros olhos.
Fale-me um pouco de si. Como tem corrido a experiência no América?
-Foi incrível voltar ao clube que tenho tanto carinho. Quando saí do México e fui para Inglaterra nunca escondi a vontade de voltar para o América, mas na primeira tentativa não deu. A equipa estava muito bem e acabei por ir para o Monterrey. Sinceramente, pensei que já não teria a possibilidade de voltar. Agora que estou aqui, tenho de dizer que tem sido tudo como sonhei na minha carreira. Joguei em clubes de topo, como o FC Porto, o Sevilha, o Villarreal... e agora voltar ao México e ao meu clube é incrível. Este ano os resultados não têm sido muito bons, mas estou certo de que no final vamos conseguir atingir alguma coisa.
Está com 33 anos, a ideia é terminar aí a carreira?
-A ideia é essa, mas no fim... no futebol tudo pode acontecer. Temos de estar abertos a todas as possibilidades que o futebol apresenta e, depois, tomar a melhor decisão. A minha intenção é terminar aqui, fazer mais uns bons anos no América, ganhar títulos e atingir alguma coisa importante e, depois, deixar o futebol e descansar.
Em junho de 2019, o Layún superou um problema de saúde sério. Desde então, tem olhado para a vida como uma espécie de segunda oportunidade?
-É mesmo isso. Naquela altura estava com um stress enorme porque não sabia se ia sair com vida da cirurgia. Quando me disseram que tinha um cancro no rim foi chato, foi difícil, foi "fod..." ouvir aquilo. Quando fiz o exame depois da cirurgia e disseram que estava tudo direitinho, que tinha sido um êxito, pensei "às vezes as pessoas são muito estúpidas a encarar a vida, como se fossemos viver para sempre". Mas as coisas podem mudar de um momento para o outro. Ninguém tem nada certo. Podemos estar a falar agora e daqui a um mês não estar aqui. Depois disso, na minha cabeça, só penso em desfrutar da vida, dos filhos, da minha mulher, da família e do futebol. E fazê-lo de uma forma bem diferente do que fazia antes. Não é magia, não se muda tudo de um dia para o outro, mas quando tenho um dia pior penso "há dois anos estava todo preocupado com o cancro e é agora que vou cair? Desfruta". Sem dúvida, foi uma segunda oportunidade na vida.