A tensão e histórias antigas do dérbi minhoto: "Tivemos de ir à polícia"

Vitória de Guimarães e Braga defrontam-se na noite desta segunda-feira pela 148.ª vez e pela 74.ª no Estádio D. Afonso Henriques, misturando todas as competições.

É um dérbi de emoções fortes, vivido "com uma intensidade incrível", como testemunham três ex-jogadores que estiveram dos dois lados.

"Os adeptos do Vitória vivem o clube 24 horas por dia e sentem mais o clube. Isso pode fazer parecer que são mais exigentes do que os do Braga, mas não são, porque estes também não gostam, naturalmente, de perder", defende Luís Filipe, que fez 22 jogos pelos vimaranenses e 125 pelos bracarenses. "As coisas agora estarão diferentes, mas, na altura em que jogava, o dérbi era vivido com muito mais intensidade do lado do Vitória. Talvez pelo facto de os adeptos serem mais efusivos e bairristas, sentiam muito mais o dérbi. Há vontade de vencer dos dois lados, mas mais por parte dos sócios do Vitória", acrescenta o antigo lateral-direito.

João Alves recorda que "quando a equipa ganha", os adeptos do Vitória "levam os jogadores ao colo, mas quando perdem, as coisas vão do oito ao 80 e, por vezes, ultrapassam o limite do razoável." O antigo médio diz mesmo que "não é qualquer jogador que chega ao Vitória e consegue singrar, por causa da pressão, que é igual à dos grandes." Residente em Guimarães, o ex-jogador do Vitória (153 jogos) e do Braga (24) conta que durante a semana que antecede os dérbis, "sempre quentinhos", sente-se que "as pessoas andam ansiosas que chegue o dia do jogo." "É quase como se fosse o único jogo do campeonato", explica.

Nas três épocas que passou em Guimarães, onde fez 30 golos, em 96 jogos, o ex-avançado brasileiro confirmou que "os adeptos do Vitória são realmente do Vitória", e eram "muito mais exigentes" do que noutros clubes por onde passou, incluindo o Braga - 13 golos, em 38 jogos -, nos quais os adeptos se "dividiam quando jogavam com os grandes".

História da troca direta fica no baú
Ao transferir-se, com Riva, do Vitória para o Braga, no verão de 2000, Edmilson protagonizou um filme de terror para os adeptos vitorianos. Mais de 22 anos depois, o antigo avançado brasileiro preferiu deixar o assunto no baú. Frisou apenas que "nestes jogos os jogadores transcendem-se e dão tudo." "Não nos sentíamos inferiores e ganhávamos forças, mesmo quando a equipa não estava bem classificada", recorda. "Para os sócios, estes jogos são muito importantes e valem mais do que três pontos", salienta.

Episódios

Luís Filipe
Um jogo pelo Vitória, 5 pelo Braga
"Estes jogos não se esquecem"
"Ficaram-me todos na memória. Estes dérbis não se esquecem, pela rivalidade que há entre os clubes e pela proximidade geográfica. É um dos jogos mais emocionantes e marcantes para um jogador. Houve alguns em que aconteceram coisas menos positivas, extra-futebol, mas isso não é o mais importante. Prefiro destacar que é um jogo muito bom de jogar. Foram todos especiais e vividos de forma intensa."

João Alves
9 jogos pelo Vitória, 1 pelo Braga
"Tivemos de ir à polícia"
"Quando estava no Vitória, fomos quatro expulsos em Braga [neste jogo, a 2 de abril de 2010, também viram vermelho Valdomiro, Alex e Desmarets]. Estávamos a ganhar 1-0 e perdemos 3-2. O Vitória meteu uma ação contra o árbitro, o Soares Dias, tivemos que ir à polícia, e ele acusou-nos de insultos, mas ficou tudo resolvido quando prestámos declarações na Liga. Ele fez um "mea culpa" e nós pedimos desculpa. Foi um jogo mesmo quente, uma autêntica batalha."

Edmilson
5 jogos pelo Vitória, 2 pelo Braga
"Fiz assistência e marquei noutro"
"A rivalidade é como entre Benfica e Sporting ou Benfica e FC Porto. A mesma intensidade. Lembro-me de um jogo em Braga, pelo Vitória, em que fiz uma assistência para o Pedro Mendes [1-3 no jogo que ficou 2-4] e de outro, também em Braga, em que fiz um golo quando o Vitória perdeu 2-1. Na minha primeira época, com o Jaime Pacheco, estávamos bem posicionados, empatámos em casa com o Boavista e os adeptos ficaram furiosos."