A Taça colocou um amigo no caminho: "As recordações são muito boas..."
Ançã, equipa dos distritais de Coimbra recebe Casa Pia, dando uma possibilidade ao treinador Paulo Machado de rever João Pereira. Eric Costa e Ronaldo Mendes foram colegas do técnico casapiano nas camadas jovens da Académica. Na altura, já viam um jovem com "facilidade em comunicar" e "sempre com resposta pronta".
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Paulo Machado, treinador do Ançã, sorriu quando viu o sorteio da Taça de Portugal. O clube que orienta, atual quinto classificado da I Divisão Distrital de Coimbra, vai jogar com o Casa Pia, da I Liga. Mas não foi por isso. Há outra curiosidade que torna esta partida mais especial. "No meio de 60 equipas que nos podiam calhar, vou enfrentar um treinador [João Pereira] com o qual tenho, provavelmente, a relação mais próxima. Um amigo, com quem tirei a licenciatura", revela a O JOGO.
O técnico, de 47 anos, conta que "houve mensagens e brincadeiras" com o homólogo casapiano num grupo de whatsapp que vem dos tempos da faculdade, mas, apesar da ambição de surpreender, "há quatro escalões a separar as equipas". "Nós treinamos três vezes por semana e vamos enfrentar uma equipa profissional. Queremos desfrutar e orgulhar as pessoas de Ançã", sublinha o treinador da equipa do concelho de Cantanhede, que é também funcionário dos CTT.
Se Paulo Machado conheceu um João Pereira universitário, Eric Costa e Ronaldo Mendes conviveram com a versão adolescente do técnico dos gansos, natural de Coimbra, partilhando o balneário nas camadas jovens da Académica. "Não jogámos juntos muito tempo, mas as recordações são muito boas. Era um avançado possante, um pouco bruto, mas com muita vontade e humilde", recorda o avançado Eric Costa, de 32 anos, destacando uma característica que já via no jovem João Pereira: "A forma de articular bem as palavras é algo que teve desde sempre. Tem uma resposta pronta e sabe o que dizer no momento certo."
"A facilidade em comunicar" é algo que também Ronaldo Mendes destaca sobre o amigo, e tem pena que ele não tenha seguido a carreira de jogador. "Era um "gajo" cheio de força, determinado e dedicado. Infelizmente, teve lesões frequentes e acabou por desistir", sublinha o médio, de 33 anos, que mantém contacto com o treinador do Casa Pia: "Estivemos juntos recentemente num convívio de antigos jogadores da Académica daquele ano. Quando foi o sorteio, ele mandou-me logo mensagem."
Por ter sido o vencedor da Taça e Supertaça da Associação de Futebol de Coimbra e, em 2024/25, o Ançã conquistou o direito a participar na edição deste ano da Taça de Portugal. Esta é a primeira vez que alcança a terceira eliminatória, e é o único clube do distrito ainda em prova.
Capitão só vê coisas boas
Hugo Parreiral foi quem levantou os mais recentes troféus distritais conquistados pelo Ançã: a Taça e Supertaça da Associação de Futebol de Coimbra. O capitão, de 26 anos, só vê vantagens neste confronto com o Casa Pia. "Vai ser um desafio muito bom para nós e, qualquer que seja o resultado, vamos aprender muito", frisa o defesa, lembrando a felicidade do plantel com o sorteio: "Era o que desejávamos, jogar contra uma equipa da I Liga. Acho que este grupo já merecia um jogo com um adversário assim".
Uma formiga contra um elefante
É preciso recuar até 1976 para encontrar um jogo do Ançã com um clube do principal escalão. Na altura, o emblema do concelho de Cantanhede foi goleado pelo V. Setúbal (9-0), também na Taça de Portugal. "Mal saiu o sorteio, os sócios mais antigos recordaram esse jogo de há quase 50 anos", comenta o presidente João Garrido, que lidera o clube há nove anos, consciente sobre as escassas hipóteses de seguir em frente na prova: "Embora no futebol tudo possa acontecer, temos noção de que é uma formiga contra um elefante."
Orgulhoso do emblema que lidera, este encarregado de armazém, de 51 anos, mostra-nos as instalações do Complexo Desportivo, que, embora modestas, têm tudo o que a equipa precisa. "Numa vila com 2500 habitantes, conseguimos ter 350 atletas e não deixamos que nada lhes falte. Temos uma responsabilidade social", lembra.
De fora dos campeonatos nacionais desde 1979/80, quando disputou a antiga III Divisão, o Ançã até foi convidado para integrar o Campeonato de Portugal em 2022/23. Porém, a Direção não quis alcançar esse escalão por via administrativa. "Este clube tem crescido, mas não quer dar passos maiores que a perna. Nessa época, outros clubes do distrito não cumpriram o licenciamento e tivemos a oportunidade, que recusámos. Queremos lá chegar por mérito desportivo", atira João Garrido.
"Ferryaço" é alcunha antiga
O Ançã é conhecido como "Ferryaço", alcunha que já vem dos primeiros anos deste clube, fundado em 1941. "A malta ia ver o jogo ainda no antigo campo pelado de São Sebastião, no centro da vila, onde é agora uma escola primária. Foi aí onde joguei. Os nossos jogadores eram sempre muito aguerridos e os adeptos incentivavam: "é ferro, é aço". Foi assim que surgiu o "Ferryaço", que é como somos conhecidos", partilha João Garrido, um filho da terra: "Além de ser daqui, vivo mesmo ao lado do Complexo. Quando há um problema, já sabem qual a porta a bater."
Antes de assumir o cargo de presidente, o dirigente foi também jogador e treinador no clube. "Havia coisas que não estavam a correr muito bem e algumas pessoas começaram a chatear-me, a dizer que tinha algum jeito. Nunca me imaginei neste papel, e há quem diga que vou ser o Pinto da Costa do Ançã, mas já comuniquei que esta será a minha última época no cargo", garante.