ENTREVISTA >> Damon Lavelle, o arquiteto que no início do século projetou o recinto benfiquista, está a inspirar-se num modelo automóvel para a remodelação do mesmo, que passa também por um aumento da lotação
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Damon Lavelle, arquiteto da empresa Populous que, no início do século, foi o responsável pelo projeto do Estádio da Luz tem conversado com dirigentes do Benfica quanto a uma hipotética remodelação do recinto. Ainda não há data para se iniciar o processo, mas desde já lhe apresentamos algumas das principais ideias.
Em que ponto estão as conversações com o Benfica no sentido de uma remodelação da Luz?
-No ano passado, analisámos a possibilidade de remodelação e expansão das instalações do estádio. Juntamente com Luís Filipe Vieira e com Mário Dias averiguámos também a hipótese de remodelarmos a zona dos camarotes, as bancadas em geral, assim como a possibilidade de aumentar a capacidade. Agora, vim cá pelo 17.º aniversário da inauguração e aproveito para me reunir com as pessoas.
Em quanto pensam aumentar a capacidade?
-Analisámos várias hipóteses e concluímos que uma lotação na ordem das 80 mil pessoas seria a melhor hipótese.
O crescimento será feito para o topo?
-Sim, quando construímos a Luz em 2003 garantimos a capacidade de haver mais espaço na parte de cima. Pensámos no futuro. Na altura, não fizemos isso porque não tínhamos tempo nem dinheiro, mas o Mário Dias disse logo: "Havemos de o ter." Na estrutura atual temos a capacidade, em termos de betão, para mais um nível no topo, a toda a volta. Sabemos que há muita gente que quer vir aos jogos e não consegue bilhetes...
Pensam recorrer a novas tecnologias?
-O estádio foi feito muito, muito depressa, com custos baixos em termos internacionais, mas quando o fizemos pensámos em termos de espaço para o futuro. Esse futuro está aí à porta e é caso para nós pensarmos como pode o clube obter mais receitas para investir em jogadores, para ter mais sucesso. Em relação a tecnologias, temos aí o 5G, que vai trazer grandes mudanças. Todas as pessoas vão ter supercomputadores dentro dos bolsos, com uma conectividade que será cada vez mais predominante e sofisticada. Haverá maior interatividade entre as pessoas que estão no estádio com os seus amigos e familiares.
Vão recorrer à robótica ou à inteligência artificial?
-Sim, por exemplo no sistema do relvado, que será removível, com um outro piso por baixo pronto a ser utilizado em concertos ou outros eventos. Atualmente o Benfica tem dois ou três eventos de música, por exemplo. E é tudo. Mas com esta tecnologia, em que o relvado possa ser retirado, podemos ter muito mais.
Podemos falar num estádio do futuro?
-De certa forma, sim. Nós fazemos coisas à prova do futuro. Podemos olhar para o exemplo de um Tesla, que usa um sistema por módulos, que podem ir sendo substituídos. O melhor da tecnologia é fazer as coisas por módulos, remodeláveis, de forma multifuncional, e que possa ser atualizado. A Tesla faz isso. E o Benfica pode ser o primeiro estádio Tesla nesse sentido. Isto porque o Tesla é autónomo, conduz o futuro, é um veículo inteligente, é modular, tem atualizações de software e está conectado. Portanto, o Estádio do Benfica do futuro vai ser o Tesla dos estádios.
Damon Lavelle explica que, na altura, já sabiam que mais tarde ou mais cedo o recinto necessitaria de ser atualizado. Agora, o processo passa também por um embelezamento exterior
"Recinto foi feito a pensar num desenvolvimento posterior"
Quando poderá começar a remodelação da Luz?
-O estudo está em curso. Agora há eleições, começa um novo período e ainda não é certo. É apenas um estudo, mas há reuniões a decorrer. Mas não é preciso ter pressa. O que é preciso é que tudo seja feito corretamente.
Quanto pensam gastar na remodelação?
-Há todo um espetro de possibilidades. Há o nível número um, o número dois ou o número três, em relação a gastos. Se gastares quantia xis, quais as vantagens? Há que ver qual a melhor opção.
Para o exterior também há modificações pensadas? Pensam pintar toda a área exterior ou vão continuar a deixar o betão à vista?
-Há um conjunto de opções que necessitam de ser estudadas. São questões que envolvem dinheiro. Foi intencional fazermos assim e também uma forma "low cost" e de construção rápida para o Europeu de 2004. Só pudemos gastar o que estava disponível, não tínhamos dinheiro para comprar "roupa" muito bonita. A Luz foi pensada para ser construída muito rapidamente, com alta qualidade, mas "low cost". Um recinto largo, a pensar numa expansão futura. E por isso o espaço que desenhámos para o Benfica há 20 anos foi pensado em termos de construir um espaço que pudesse ser desenvolvido mais tarde. Não gastas dinheiro numas lindas "roupas". Crias os ossos, a estrutura. Porque depois podes sempre mudar as "roupas", podes sempre remodelar.
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