Miguel Poiares Maduro considera arcaica a forma de organização da FIFA e da UEFA
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Antigo presidente do Comité de Governação da FIFA, cargo que ocupou durante dez meses, entre 2016 e 2017, Miguel Poiares afirmou esta quinta-feira em tribunal que os métodos de governação desta entidade estão, no mínimo, completamente ultrapassados.
"A governação no futebol é como usar software de hoje num computador dos anos 80", disse o atual professor universitário, durante a 40.ª sessão do julgamento do caso "Football Leaks", a decorrer no Juízo Central Criminal, ao Campus de Justiça, em Lisboa.
No seu entender, também a forma de organização desta entidade está obsoleta: "Há uma quase ausência de escrutínio, que é originário de quando os clubes eram amadores. Mas entretanto o futebol tornou-se um mega negócio, com cerca de 3,7 por cento do PIB europeu (...) e está na mão de organizações com métodos de organização arcaicas, com cartel politico, fortíssima concentração de poderes no topo e pouco escrutínio através de órgãos independentes."
Para Poiares Maduro, um dos principais problemas tem a ver com o facto de FIFA e UEFA serem ao mesmo tempo organizadores e reguladores, o que gera conflitos de interesses dentro de si próprias. E exemplificou com dois casos que resultaram da divulgação de documentos pelo Football Leaks: a suposta infração das regras fair-play financeiro por parte de PSG e de Manchester City.
O caso do clube inglês "chegou ao conhecimento do comité de investigação de Fair Play Financeiro da UEFA" e "houve sanções" decretadas ao clube, como depois ao PSG. Poiares Maduro lembrou, porém, que ambas "foram revertidas no TAD", porque "a UEFA não forneceu elementos importantes" para a investigação. "A liderança politica, ou seja, os dirigentes da UEFA, deram indicações à equipa jurídica" para que fosse "colocada em causa a decisão do seu próprio órgão independente".
"A UEFA é reguladora e, ao mesmo tempo, organizador económico com interesse em manter o valor económico das competições, que sem o PSG e o Manchester City ficariam a perder. Logo, eles não queriam ficar sem PSG e Manchester City. Com equipas pequenas não há problemas, mas quando chega a equipa poderosas...", considerou.