Miguel Poiares Maduro: "Com o Football Leaks há maior escrutínio no mundo do futebol"
Antigo dirigente da FIFA, Miguel Poiares Maduro, enaltece o papel positivo da revelação de alguns dos documentos descobertos
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Miguel Poiares Maduro, professor universitário que em 2016 e 2017 exerceu um cargo de topo num órgão da FIFA, realçou a importância dos documentos divulgados no Football Leaks para o combate à corrupção, em geral, no mundo do futebol.
"Os documentos, na sua maioria, são de interesse público. Revelam conflitos de interesses, atividades potencialmente ilegais e tiveram contributo positivo, na minha opinião, para que houvesse um maior escrutínio do mundo do futebol, e que a meu ver, de qualquer forma, me parece insuficiente", declarou na manhã desta quinta-feira, durante a 40.ª sessão do julgamento do caso "Football Leaks", a decorrer no Juízo Central Criminal, ao Campus de Justiça, em Lisboa.
Em concreto, Poiares Maduro salientou a descoberta de ilegalidades de âmbito fiscal.
"Terão dado origem a processos fiscais, por um lado. Por outro revelaram o papel dos intermediários, que deveriam deveriam ser transparentes, o quanto recebem, por exemplo, que não é completamente transparente. Há um estudo que a FIFA encomendou que indica que nas 10 ligas principais da Europa, as comissões ficam próximas dos 700 milhões de euros em 2019, sendo Portugal o quarto país, com 73 milhões em 2019. (...) Outro estudo da UEFA indica que os valores reais e não reportados são bastante superiores a esses", declarou.
No seu entender, as organizações com mais poder no futebol mundial têm problemas graves a resolver. "A noção do estado de direito é estranha ao mundo do futebol. (...) Há uma aplicação seletiva das normas, por razões de oportunidade política. (...) Os órgãos não são independentes porque, quando são, são substituídos. (...) A dimensão transnacional do futebol torna muito difícil a investigação e torna-o num mundo muito propício à existência de atividades criminais", considerou.
Antigo ministro num governo do PSD, Poiares Maduro criticou ainda os fundos que partilhavam com os clubes os direitos desportivos dos jogadores: "Os TPO (Third Party Ownership) no meu ponto de vista, tal como funcionavam, apresentavam perigo muito grande para a integridade do futebol, pois permitiam que o controlo dos direitos desportivos dos jogadores não pertencessem a clubes, mas a partes que muitas vezes não eram conhecidas, permitindo conflitos de interesses."