UM LIVRO POR DIA - "My turn", de Johan Cruyff
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A primeira pergunta que o leitor fará antes de ler este texto será provavelmente esta: como é que este livro não foi ainda traduzido para português? Com tanta literatura de "mastiga deita fora" dedicada ao desporto-rei, chega a ser incompreensível que a história de um dos maiores arquitetos do futebol - contada pelo próprio - não tenha uma edição na quinta língua mais falada do mundo. Ainda assim, o conselho para que encomende esta obra on-line (onde se encontra facilmente) é deveras urgente.
O rapaz franzino de Amesterdão que fazia tudo o que lhe pediam e nada do que lhe mandavam era feito de futebol. Johan conta tudo o que já se sabia, mas vai mais além. Sobre o pai que perdeu ainda menino, revela que falava com ele nas horas de incerteza. Sobre a mãe, que limpava as instalações do Ajax, o futuro craque herdou a perseverança e sobre Piet Keizer, o eterno insatisfeito Cruyff dedica um verdadeiro tributo, considerando-o um primeiro mentor. O mistério da ausência do Mundial de 1978 é aqui desfeito e a mágoa pela derrota na final quatro anos antes relativizada.
De revolução em revolução, a jogar por Ajax, Barcelona, Feyenoord e Holanda e a treinar os catalães, Cruyff destaca a sua passagem pelo futebol norte-americano ainda como praticante (Los Angeles Aztecs e Washington Diplomats) como vital para a sua visão do jogo, assim como todos os aspetos que o rodeiam. Ao invés de ensinar, saiu a aprender.
O livro foi publicado pouco antes de Cruyff morrer. Se por acaso hoje o lesse, decerto teria ficado insatisfeito.