O chefe de Estado considerou que o país não quer "nunca cometer o erro" de trocar a sua vocação universal pela ilusão de que, para ser feliz, é necessário deixar de ser o que o marcou "há séculos".
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O Presidente da República considerou este sábado necessário "cortar os ramos mortos que atingem a árvore toda", advertindo que, só se não se quiser, é que "Portugal não será eterno".
No seu discurso na cerimónia militar do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que está a decorrer no Peso da Régua, Marcelo Rebelo de Sousa pegou na vocação universalista do país e na luta da região do Douro para se projetar para deixar alguns recados, numa altura em que a política portuguesa continua envolvida na polémica em torno do incidente no Ministério das Infraestruturas e no envolvimento do SIS na recuperação de um computador de um adjunto do ministro João Galamba.
O chefe de Estado considerou que o país não quer "nunca cometer o erro" de trocar a sua vocação universal pela ilusão de que, para ser feliz, é necessário deixar de ser o que o marcou "há séculos".
"Mas atenção, que isso não seja álibi ou justificação para não sermos mais fortes e mais justos cá dentro, até para podermos ser mais fortes e justos lá fora", frisou.
Segundo o chefe de Estado, "é esse o apelo deste Douro e de todos os Douros": "Pegarmos no impossível, tentarmos uma vez, com vezes, mil vezes, falharmos mais do que acertamos, (...) não desistirmos, começarmos de novo".
"Darmos de novo viço ao que disso precisar. Plantarmos, semearmos, podarmos, cortarmos os ramos mortos que atingem a árvore toda. Recriarmos juntos, neste Douro, em todos os nossos Douros, o que faça o nosso futuro muito diferente e muito melhor do que o nosso presente", declarou, sem nunca mencionar diretamente qualquer caso político atual.
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Com o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro das Infraestruturas, João Galamba, a ouvi-lo na plateia, o Presidente da República disse: "Só se não quisermos é que o nosso Portugal não será eterno".
"Não podemos desistir nunca de criar mais riqueza, mais igualdade, mais coesão, distribuindo essa riqueza com mais justiça", declarou Marcelo Rebelo de Sousa no seu tradicional discurso na cerimónia militar comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que decorre no Peso da Régua, distrito de Vila Real.
Só dessa forma, prosseguiu o chefe de Estado, Portugal poderá continuar a ter a sua "projeção do mundo" e cumprir o seu "desígnio nacional".
"É a nossa vocação de sempre: fazermos pontes, sermos plataforma entre oceanos, continentes, culturas e povos. Outros há, e haverá, que são e serão mais ricos do que nós, mais coesos do que nós, mas com línguas que poucos conhecem, incapazes de compreenderem o mundo, de o tocarem e de o influenciar, mesmo aquele mundo que está mesmo à beira da sua porta", disse.
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O chefe de Estado destacou a influência de Portugal e da língua portuguesa no mundo, dando o exemplo das forças militares destacadas em missão, a reeleição do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e os compatriotas à frente de empresas e universidades, em áreas como a arte ou a tecnologia.
"É de pasmar para tão pequeno território terrestre e tão reduzida população. Temos um peso no mundo muito muito maior, de longe, do que o nosso território terrestre", referiu, destacando também a influência marítima e área do país.
Marcelo Rebelo de Sousa questionou, contudo, essa influência: "De que nos serve termos essa influência mundial, se, entre portas, sempre tivemos e temos problemas por resolver?".
"Mais pobreza do que riqueza, mais desigualdade do que igualdade, mais razões para partir às vezes do que para ficar. Sejamos honestos para connosco mesmos, assim tem sido e continua a ser século após século", acrescentou.
Relembrando os "tempos mais ricos" do império colonial, a "longa e penosa" restauração da independência, as "insensatas" expulsões de não-cristãos, o "delírio" do ouro, pimenta e prata, Marcelo Rebelo de Sousa terminou evocando o o Estado Novo, tempo em que, enalteceu, "as finanças estavam certas, mas a liberdade, saúde, educação e segurança social ou não existiam ou eram para um punhado de privilegiados".
"Tudo isto foi e às vezes ainda é verdade", observou.