Football Leaks: "Todos queríamos que fosse a Autoridade Tributária a chegar a estas informações"
Pedro Bragança considera que a divulgação de fenómenos danosos para a sociedade vale sempre a pena.
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Na parte final do depoimento em tribunal como testemunha no caso Football Leaks, Pedro Bragança foi questionado quanto à legitimidade ou não, de poder violar-se a privacidade de uma entidade para se obter, e posteriormente divulgar, informação.
O arquiteto e comentador do Porto Canal considera que pode haver casos em que tal se justifique, como, no seu entender, se verifica no Football Leaks.
"Não digo que seja indiferente. Até porque o que todos que nós queríamos é que fosse a Autoridade Tributária a chegar a toda esta informação. O problema é que não foi. Se o interesse público se sobrepuser a esses danos particulares, acho que sim [que se justifica]. Há um balanço que tem de ter tudo isso em conta, como o valor do interesse público que está na informação, que na minha opinião se sobrepõe aos métodos que estão por trás e, isto, reconhecendo a legislação europeia relativa aos denunciantes", respondeu Bragança, durante a 39.ª sessão do julgamento do caso Football Leaks, no Juízo Central Criminal, ao Campus de Justiça, em Lisboa.
Bragança exemplificou com as informações divulgadas quanto à infração das regras de fair-play financeiro por parte do Manchester City.
"A questão da proveniência da informação passa para segundo plano, para mim. Não está em causa que seja ou não importante. Mas por exemplo, como as regras do fair play infringidas pelo Manchester City", disse.
Já em relação ao blogue "Mercado de Benfica", que chegou a divulgar informação pessoal de pessoas ligadas ao Benfica, Pedro Bragança não se mostrou tão convicto: "Há aspetos que tratados jornalisticamente têm uma importância extraordinária. Mas não me identifico tanto com essa forma de informação e quanto a mim até prejudica a qualidade da informação. Havia lá informação em massa que não era de interesse público, mas também havia lá diluída informação de interesse público. Isso valida um certo interesse, independentemente do resto."
"Compreendo a existência de um dano provocado nas partes que veem os contratos divulgados, mas tem que ser feito um balanço entre o valor do interesse público quanto ao conhecimento desses fenómenos danosos para a sociedade e o dano que é provocado. Para mim vale sempre a pena, quando há interesse público", acrescentou.