No coração de Bruxelas, onde situam as sedes de diversos organismos da União Europeia, as pessoas choram e mostram-se desorientadas depois dos atentados desta manhã no aeroporto e no metro
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Os habitantes de Bruxelas foram surpreendidos pelas sucessivas explosões na capital belga, aumentando o sentimento de insegurança na população.
"Estava a ver as imagens da explosão no aeroporto [de Bruxelas] quando senti uma deflagração", conta Chris Vanden Plas, funcionário da Comissão Europeia e que trabalha num edifício por cima da estação de metro de Maelbeek, onde se terão registado duas explosões.
Confessando ainda estar a tremer, o funcionário do departamento da Agricultura testemunhou pessoas a fugirem da estação, em choque e a receberem os primeiros socorros nas imediações.
Neste coração europeu de Bruxelas, onde estão localizados as sedes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu encontraram-se pessoas em lágrimas, com as roupas sujas, cabelos chamuscados e expressões de choque.
Também havia alívio, como testemunhou a agência Lusa, de uma mulher quando reconheceu uma amiga já fora do perímetro de segurança imposto pelas forças policiais, na zona junto a um jardim, com um enorme lago, a praça Marie Louise.
"Graças a Deus, ela está viva", suspirou a mulher, correndo para abraçar a pessoa que reconheceu e falando em inglês, numa prova da multiculturalidade e multiplicidade de línguas que se encontra diariamente pela capital belga.
O acordar de hoje em Bruxelas foi em sobressalto, primeiro com as imagens de destruição causadas por uma explosão no aeroporto da cidade, localizado a cerca de 15 quilómetros do centro, pelas 08h00 locais (07h00 de Lisboa).
Quando se tentava perceber as causas da explosão, se havia vítimas e se em causa estava o terrorismo, cuja ameaça tem pairado nos últimos meses, começou a circular a informação de detonações no metro de Maelbeek.
Nesta estação encostada à de Schuman, que serve as sedes da Comissão e do Conselho, o trânsito deixou de circular e o que mais enchia o ambiente eram os barulhos de um gigantesco aparato policial e das organizações de socorro montado.
A Lusa testemunhou pessoas a serem transportadas de maca para as ambulâncias, cujo número se foi multiplicando à medida que o tempo passava.
Depressa, o som de helicóptero também se juntou às ordens dos agentes policiais, que gritavam: "circulem, circulem, ninguém pode ficar aqui".
Na desorientação instalada, por falta de informação das autoridades no terreno, o perímetro de segurança foi alargado uma segunda vez, com a polícia a intensificar as ordens gritadas e a empurrar jornalistas, curiosos e quem queria saber mais.
Ao telefone, um jovem tentava falar com o seu amigo, que tinha fugido da estação de metro para a Praça Jourdan, nas imediações.
"Ele contou-me que ouviu uma explosão, dentro do metro, sentiu um vento na cara e ficou coberto de sangue", diz o jovem à Lusa.
No local, multiplicam-se e cruzam-se informações sobre o número de mortes a aumentar no aeroporto e ali, a algumas dezenas de metros, na estação de Maelbeek.
A ameaça do terrorismo começou a ser sentida em Bruxelas, depois das informações de envolvidos nos atentados de 13 de novembro de Paris terem viajado.
Por essa altura, a cidade foi 'fechada', as pessoas convidadas a ficar em casa e a comuna de Molenbeek a competir na lista de locais mais citados na cidade, já que por ali havia buscas, às vezes mais de uma vez por dia.
Na semana passada, foi a vez de Forest chegar à comunicação social quando agentes policiais belgas e franceses foram recebidos com tiros quando se preparavam para uma busca de rotina.
Objetos ligados ao grupo terrorista Estado Islâmico e impressões digitais de um dos homens mais procurados na Europa, Salah Abdeslam, fizeram soar novas campainhas.
Na sexta-feira, Abdeslam, acusado de perpetrar os ataques de Paris, era finalmente detido, sob o aparato das televisões.
Mas as autoridades, como aconteceu na segunda-feira, avisavam que ainda se estava longe de concluir o puzzle.