Sobrinha de um campeão europeu pelo FC Porto e jogadora na Liga BPI: "O futebol é um escape"
Aos 27 anos, a médio do emblema de Aveiro acumula com funções de treinadora das camadas jovens da equipa. Num ano atípico, Sandrinha acredita que a paragem da formação é prejudicial para o futuro
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Sobrinha de António Sousa, campeão europeu pelo FC Porto em 1987, Sandra Sousa Fernandes, mais conhecida por Sandrinha, admite que o futebol sempre foi um assunto falado na família. A médio enalteceu inda que, ao longo da carreira, as evoluções da modalidade em Portugal têm sido muito significativas.
Esta época ainda não foi opção nos jogos do Clube Albergaria, mas o amor à camisola continua a falar mais alto
Em 2015/2016 chegou ao Clube Albergaria. No entanto, esta época ainda não jogou. Como é que encontra motivação para continuar?
- O futebol acaba por ser um escape para toda a minha rotina. Sei que vou chegar ao final do dia, vou ter treino e vou estar com as minhas amigas. É um momento de convívio em que consigo divertir-me e fazer desporto. Sei que vou ter um momento que me vou esquecer de tudo o resto. Em termos de jogadora, já não tenho uma perspetiva de futuro há algum tempo.
Continua a ser um objetivo praticar futebol?
- Sim, nunca me passou pela cabeça, mesmo jogando menos, deixar o clube. Acredito que todas as jogadoras da equipa são importantes porque se fossemos só 11 ou 15 nunca conseguíamos treinar. Acabamos todas por ter um papel fundamental no clube, jogando ou não.
Quanto à equipa, o que espera nesta segunda fase?
- Na primeira fase tínhamos o objetivo de ficar nos quatro primeiros classificados e, com muito trabalho, conseguimos. Estávamos conscientes da qualidade que tínhamos no nosso plantel. Sabíamos que muita gente achava que não íamos conseguir, mas nunca duvidei da capacidade da equipa. A partir do momento que atingimos o objetivo - de garantir a permanência -, passamos a desfrutar do jogo. Na maioria do jogos que temos, apanhamos equipas superiores e, então, é desfrutar do jogo e tentar que as miúdas cheguem a outro patamar. Queremos mostrar o nosso trabalho e conseguir ficar classificadas o melhor possível.
No percurso pelo Clube Albergaria esteve duas temporadas sem competir. Qual foi o motivo?
- Parei por causa do trabalho. Foi na altura em que saí da universidade depois de tirar o curso de Ciências do Desporto. Como não consegui arranjar trabalho na área, comecei por trabalhar numa padaria e não dava para conciliar os horários com os treinos. Mas, depois, quando consegui arranjar trabalho na minha área, consegui voltar a jogar.
Para além de jogar futebol, tem outras ocupações. Como é que consegue conciliar tudo?
- Trabalho num ginásio, dou AECs, dou os treinos às miúdas e agora trabalho numa empresa de análises desportivas em Aveiro. É tudo em part-time, acabo por conseguir conciliar. Mas, muitas vezes, é difícil.
No futebol feminino, Sandrinha passou por cinco emblemas: Nogueirense, Milheiroense, União Ferreirense, Cesarense . Atualmente, está no Clube Albergaria, da Liga BPI.
No Clube Albergaria treina as sub-14. Acredita que os escalões de formação proporcionam mais oportunidades às atletas?
- Sim, porque já se consegue começar na modalidade muito mais cedo. E, atualmente, com o aumento da visibilidade, é possível atrair mais miúdas e até os próprios pais têm a perceção de que as filhas podem jogar em algum clube, com condições.
Considerando o trabalho da formação, esta paragem pode ser prejudicial?
- Sim, em termos de formação, foi um ano completamente atípico. O futebol acaba por ser como na escola, estamos a formar, ou seja acaba por haver uma interrupção na formação durante um ano. Apesar de as atletas terem sempre muita vontade e até pedirem ajuda nos treinos em casa, a verdade é que a conjuntura atual acaba por ser totalmente prejudicial para o desenvolvimento delas.
Desde que começou a jogar até aos dias de hoje, sente que houve um crescimento na modalidade?
- Sim, a realidade do futebol feminino é hoje totalmente diferente da existente quando comecei. A formação é fundamental. É daí que vêm as bases para as seniores e quanto mais cedo tiverem uma formação adequada melhor vai ser para o futuro. Em Albergaria sinto que isso é fundamental, temos formação desde as mais pequeninas e depois já temos sub-14, sub-15 e sub-19. A formação acaba por alimentar as seniores, é dai que vem as gerações futuras. Há uma profissionalização da modalidade. Recordo-me que no Nogueirense, um dos meus primeiros clubes, levávamos a água para beber à vez. Agora temos muito mais condições, e o clube tenta acompanhar o ritmo a que está a evoluir a profissionalização dos clubes e da modalidade.
Para terminar, e voltando às suas raízes, sente que ter na sua família jogadores de grande nome, como são António Sousa e o filho Ricardo Sousa, pode ter influenciado o seu gosto pelo futebol?
- Não sei se influencia diretamente, mas sempre foi uma modalidade bastante presente na família. Para além desses meus familiares, o meu avô também foi jogador na Sanjoanense.