Defesa do Manchester City recordou tempos confusos durante a sua adolescência nos Países Baixos, quando "nem sabia que ser gay era sequer uma opção"
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Kerstin Casparij, defesa do Manchester City, falou esta quarta-feira de forma muito aberta sobre o facto de ser homossexual, admitindo que foi preciso entrar no mundo do futebol feminino para perceber que sentir-se atraída por mulheres é "normal".
Em declarações à BBC, a internacional neerlandesa, de 25 anos, recordou que, durante a sua adolescência nos Países Baixos, "nem sabia que ser gay era sequer uma opção", o que levou a que atravessasse momentos confusos, já que sempre sentiu uma atração pelo mesmo sexo.
"Ser gay não era necessariamente considerado normal. Eu não conhecia ninguém que o fosse. Quando tínhamos de andar em pares na escola, eu queria sempre dar a mão a raparigas e queria sempre ser o príncipe nas peças de teatro. É um estereótipo, mas eu sabia que gostava de raparigas. Era um tabu tão grande que eu tinha de gostar de rapazes. Eu tive namorados que eram apenas os meus melhores amigos, pensava que o amor era isso. Eu gostava deles, mas não era assim. Os meus anos de adolescente foram confusos, porque não sentia a mesma coisa por rapazes", começou por contar.
No entanto, tudo mudou quando Casparij reforçou o Heerenveen: "Às vezes, foi difícil crescer, até que entrei no futebol feminino. [Ser gay] Era algo normal e de que se falava abertamente [no clube] e aprendi muito sobre mim mesma. Eu não tive isso quando era mais nova, tinha muitas dúvidas e perguntas. Eu costumava ficar acordada à noite a pensar. 'Será que sou estranha?' Poder agora ser um modelo a seguir, com a minha parceira, para tantas raparigas, é muito importante", defendeu.
Grande representante LGBTQ+ no futebol feminino, a jogadora explicou ainda o porquê de associar tanta importância à defesa desta comunidade.
"Porque, numa sociedade moderna, muitas vezes se algo não é contra ti, não vais dizer nada sobre isso. É importante que apoiemos pessoas que precisam disso para que elas se sintam apoiadas. Por exemplo, a comunidade trans. São boas pessoas e eu preocupo-me com elas. Quero demonstrar que estou com elas e espero inspirar outras pessoas a fazer o mesmo. Penso que, no geral, precisamos de mais união e de uma noção de comunidade", refletiu.
"Penso que as mulheres homossexuais estão a passar atualmente por um momento difícil e quero ajudá-las a ter espaços seguros. Em violência doméstica, por exemplo, as mulheres homossexuais são muitas vezes ignoradas. Quero certificar-me de que elas têm um espaço para se curarem e alguém com quem falar. Quero ser uma mulher que ajuda outras mulheres", referiu, acrescentando que "sabe bem" poder ajudar outras jovens para que não tenham as mesmas inseguranças que teve e que só quer "espalhar amor".
A finalizar, Casparij também defendeu a importância da luta contra o racismo no futebol, depois de Khadija Shaw, sua colega de equipa no City, ter sofrido esse tipo de abusos na época passada.
"Se alguma das minhas colegas de equipa é abusada de forma racial, isso magoa-me. Sou uma mulher branca, não sei o que é sentir isso, mas vê-las chateadas magoa-me. Eu devo defendê-las e apoiá-las. Queremos transmitir que estamos cá para elas, que não aceitamos qualquer forma de racismo e que isso não tem lugar no futebol", rematou.