"Se dissessem que sairia à rua e me pediriam autógrafos, diria que era impossível"
ENTREVISTA >> Mariana Jaleca, médio, 24 anos, deixou a Finlândia e agarrou, sem receio, um novo desafio na Turquia. Passou a ser abordada na rua por adeptos, algo que achava "impossível", mas que agora passou a uma realidade
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Tem apenas 24 anos, mas já conta uma vasta bagagem internacional. A irreverência e qualidade acima da média chamaram a atenção dos maiores palcos do futebol feminino, tal como a coragem em perseguir os sonhos e agarrar as oportunidades. Mariana Jaleca trocou as finlandeses do Aland United, após a conquista da taça local, pelo fervoroso emblema turco e afirma estar grata com a oportunidade. "Fiquei surpreendida com a proposta, mas muito feliz", revela. Seleção Nacional é um desejo por concretizar e a jogadora torce por "uma chamada em breve".
Em ano e meio, passou por Portugal, Itália, Finlândia e Estados Unidos, este último onde tirou a licenciatura. Como surgiu a oportunidade?
-Foi a oportunidade de viver uma experiência única, na NCAA, a Primeira Divisão do campeonato universitário, e ter uma bolsa de estudo a 100%. Os meus pais sempre me incentivaram a estudar e a jogar à bola, e achei que fazer as duas coisas ao mesmo tempo seria uma oportunidade única, não tendo essa oportunidade em Portugal. Foram quase quatro anos longe da família, dos amigos, mas sempre com um crescimento a nível futebolístico gigante.
Saint Francis University, Damaiense, Orobica, Aland, e agora Fenerbahçe. A nível de experiências, as cinco são bem díspares. Como encarou cada uma?
-Quando saí dos Estados Unidos e vim para Portugal novamente, para o Damaiense, foi quase como se tivesse começado novamente do zero, ou seja, a habituar-me novamente ao futebol europeu, o que foi fantástico. O Damaiense ajudou-me imenso. Itália já foi algo em que tive de arriscar. Longe da família novamente, a aprender uma nova cultura, que adorei...E depois "dar o salto" para a Finlândia. Tiro muitas coisas positivas dos sítios por onde passei e neste momento estou muito feliz aqui na Turquia e a aprender todos os dias um bocadinho mais.
E agora representa o histórico Fenerbahçe. Ainda está a conhecer os cantos à casa, mas como tem sido a adaptação num clube com grande dimensão?
-Desde o primeiro momento que cheguei aqui que senti que é um dos melhores clubes da Turquia. Tem sido fácil. Mas é outra realidade. É tudo altamente profissional. No início do mês, realizámos um jogo amigável com o Galatasaray e estavam 11 mil espetadores no estádio. O jogo passou na televisão e milhares de pessoas assistiram. Dá para ver que é outra realidade. O futebol feminino aqui é apaixonante e tem outra visibilidade. Se um dia me dissessem que sairia à rua e viessem pessoas ter comigo pedir fotos e autógrafos, eu diria que era impossível. Contudo, está a acontecer.
"Gosto de desafios. Só penso em seguir os meus sonhos. O Fenerbahçe tem uma cultura de equipa muito boa e somos muito unidas. Temos tudo para triunfar"
Como caracteriza o grupo de trabalho?
-É um grupo fantástico. Estamos todas prontas para aprender e dar o nosso melhor. Somos unidas e ajudamo-nos muito. Somos humildes e muito talentosas. Temos seis jogadoras internacionais e são o nosso exemplo. Temos uma cultura de equipa muito boa. Não tenho dúvidas de que temos tudo para triunfar.
Porquê esta procura de aventuras internacionais?
-Apesar de adorar Portugal e ser apaixonada pela minha cidade, que é Setúbal, desde que fui para os Estados Unidos ganhei o gosto por viajar. E espero viajar muito. Gosto de desafios e de sair da minha zona de conforto. Persigo as oportunidades. Só penso em seguir os meus sonhos.
É muito viajada. Como lida com as saudades da casa?
-No começo, era bastante difícil. Fiz muitos sacríficos e passei por muito. Mas agora já me habituei. Adoro Portugal, mas este é o meu trabalho. Tenho a minha família sempre a apoiar e isso é crucial. As videochamadas também ajudam.
Como se caracteriza enquanto jogadora?
-Sou muito tecnicista e tenho uma boa visão de jogo. Estou sempre pronta a ajudar as minhas colegas.
Em termos de aspirações, até onde espera chegar na carreira?
-Estou totalmente focada no Fenerbahçe, mas espero um dia representar um grande europeu. Mas é como digo, quero ajudar o clube a conquistar títulos e talvez um dia chegar a outro patamar.
Apesar da já vasta experiência, ainda não foi chamada pelo selecionador, Francisco Neto, à Seleção Nacional. É um objetivo que deseja concretizar?
-Sem dúvida. Representei a Seleção Nacional sub-16 e foi uma experiência única. É um orgulho representar o meu país. Vou continuar a trabalhar e a lutar, diariamente, pelos meus objetivos e sonhos, sempre esperançosa que a chamada apareça em breve.