"Proposta de ACT é extremamente ambiciosa para a realidade do futebol feminino português"
Raquel Sampaio, fundadora da Teammate Football Management, realça, porém, que, à semelhança daquilo que já acontece nas principais ligas europeias, "a profissionalização da modalidade em Portugal tem de ser uma realidade a curto prazo". Já Marítimo, da Liga BPI, e Ovarense, da II Divisão, frisam que este é um processo longo, que poderá levar "anos" a ser implementado.
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O Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) finalizou a redação do primeiro Acordo Coletivo de Trabalho (instrumento de regulação coletiva de trabalho celebrado entre entidades empregadoras e, principalmente, associações sindicais, que regulam as condições laborais dos trabalhadores de tais entidades) para o futebol feminino e apresentou, esta quinta-feira, dia 9, a proposta à Federação Portuguesa de Futebol (FPF), com a pretensão de passar a haver uma equiparação salarial mínima entre homens e mulheres no futebol português.
Segundo o documento, o organismo liderado por Joaquim Evangelista pretende que, já a partir da próxima temporada, as jogadoras profissionais da Liga BPI passem a auferir, no mínimo, 2280 euros por mês, o que equivale a três ordenados mínimos, sendo que a FPF vê com bons olhos a existência de um Contrato Coletivo de Trabalho.
Face a tudo isto, O JOGO decidiu escutar três partes envolvidas na realidade do futebol feminino nacional para perceber até que ponto este desejo é exequível.
Raquel Sampaio, ex-futebolista e fundadora da Teammate Football Management - empresa de agenciamento exclusivamente dedicada ao futebol feminino -, defende que, nas condições atuais, a proposta apresentada é impossível de executar, mas, em contrapartida, salienta a elevada pertinência do tema, que deve ser debatido por "todas as entidades competentes".
"Como já se vem a suceder nas outras ligas europeias, a profissionalização do futebol feminino em Portugal tem de ser uma realidade a curto prazo. Para que isso aconteça, temos de começar por algum lado. A proposta de Acordo Coletivo de Trabalho, agora apresentada pelo SJPF à FPF, é extremamente ambiciosa para a nossa realidade. Estaríamos a falar de um investimento que ascende, só em salários, a valores entre os 650 e os 800 mil euros [plantéis compostos por 20-25 jogadoras]. Por estes dias, esta é a realidade de, provavelmente, um ou dois clubes dos 12 que competem na Liga BPI. No entanto, esta medida é, sem qualquer dúvida, essencial e um pontapé de saída na proteção laboral da mulher no futebol e, no meu entender, deve sentar "à mesa" todas as entidades competentes - FPF, SJPF, clubes e o Governo - para discussão. Para, no imediato, algo assim ser possível e viável, é estritamente necessário que os clubes recebam ajudas monetárias para profissionalizar as suas estruturas femininas, sobretudo em infraestruturas e recursos humanos", afirmou Raquel.
Já Andreia Correia, coordenadora do futebol feminino do Marítimo, conjunto da Liga BPI, revelou que o clube foi notificado, "por email", desta intenção, congratulando-se com este "primeiro passo para obter igualdade de género" no futebol. "É benéfico para todas as partes, porém, ainda há um longo caminho a percorrer. Esta proposta é um começo, mas acredito que será um processo que durará anos", avaliou a dirigente.
Por fim, Carlos Santos, diretor desportivo da Ovarense, equipa que milita no segundo escalão, enveredou pelo mesmo discurso. "Acho que, no imediato, é totalmente inviável. Estamos a falar de estruturas que nem profissionais são. Nós temos dificuldades em dar ajudas de custo, quanto mais pagar ordenados tão altos. Julgo que esse é um caminho natural, que todos teremos de percorrer, mas terá de haver muito mais ajuda e compromisso de todos. Ainda estamos longe", constatou.
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