Da Madeira ao coração de Creta: "Senti que era o momento certo para aventurar-me"

Paula Fernandes
Paula Fernandes, madeirense, de 28 anos, mudou-se esta temporada para o OFI Creta, da Grécia, a primeira experiência fora. A O JOGO, Paula Fernandes afirma que, apesar da saudade, esta aventura representa o passo certo para mostrar todo o potencial, num campeonato que caminha decididamente rumo ao profissionalismo.
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Da Madeira ao coração de Creta são 4400 quilómetros de distância, e há uma portuguesa que cumpriu essa rota. Aos 28 anos, Paula Fernandes deixou para trás o Marítimo e o conforto do futebol português para se lançar numa aventura inédita: representar o OFI Creta, na Grécia. A defesa madeirense abre o coração a O JOGO, contando como é vestir outra camisola e adaptar-se a uma realidade diferente.
O que pesou mais na decisão de sair de Portugal e aceitar o desafio do OFI Creta?
-Quis sair de Portugal à procura de um novo desafio, de uma experiência noutro país. A Grécia, mais concretamente o OFI Creta, demonstrou interesse em mim, nas minhas qualidades, e apresentou-me um projeto ambicioso que me convenceu. Senti que era o momento certo para sair do conforto de Portugal e aventurar-me numa nova etapa da minha carreira.
Esta saída foi movida apenas pela ambição ou também por alguma frustração com o futebol feminino em Portugal?
-Foi sobretudo pela vontade de viver uma nova experiência e de sair da minha zona de conforto. Não houve qualquer desilusão. Pelo contrário, a Liga BPI tem vindo a crescer, está cada vez mais competitiva, com mais clubes a investirem e a oferecerem melhores condições às jogadoras. Isso reflete-se claramente no equilíbrio que existe hoje em praticamente todos os lugares da tabela.
Que imagem tinha do futebol grego antes de chegar e até que ponto a realidade correspondeu às expectativas?
-Para ser sincera, não procurei saber muito sobre o campeonato grego antes de vir. Cheguei completamente aberta a qualquer cenário. A realidade é que a Grécia está em desenvolvimento: o campeonato começa a dar passos no sentido profissional, mas ainda existem muitas equipas longe desse patamar mínimo. Felizmente, o OFI Creta não se enquadra nessa realidade.
O OFI segue em terceiro lugar e na luta pelo título. O que explica este bom momento da equipa?
-Temos objetivos bem definidos e trabalhamos diariamente para os alcançar. A equipa quer afirmar-se como um grupo que joga bom futebol, e é isso que temos procurado fazer em todos os jogos. Da minha parte, tento trazer a experiência que adquiri noutro contexto para ajudar, tanto as jogadoras mais novas como aquelas que só conheciam a realidade do futebol grego.
Ainda persiste a ideia de que ir para fora é sempre sinónimo de melhor. No seu caso, confirma-se?
-Não diria que é melhor ou pior, é simplesmente diferente. Estar longe de casa, da família e dos amigos custa sempre. Quando decidimos ir para fora, sabemos que isso vai ter um preço emocional, mas vamos à procura de algo que acreditamos ser melhor. Umas vezes corre bem, outras nem tanto.
Sentiu que por ser estrangeira teria de provar mais do que as jogadoras locais?
-Em determinados momentos, sim. Acredito que seja mais pelo desconhecimento das minhas características do que por desconfiança em relação ao meu valor. Ainda assim, quando cheguei, senti que tinha de me afirmar rapidamente.
Ser madeirense acrescenta um orgulho especial?
-Sem dúvida. Ser madeirense é ser ilhéu, é crescer com a noção de que tudo é um pouco mais difícil. Para conseguirmos as mesmas oportunidades, temos de trabalhar mais. Não é tão simples como viver na capital. Por isso, sempre que posso levar o nome da Madeira a outros cantos do mundo, sinto um enorme orgulho.
Já houve momentos em que pensou: valerá mesmo a pena estar tão longe?
-Muitas vezes. Há dias e datas festivas que custam mais. Mas faz tudo parte de um processo de crescimento. Quando decidi sair de casa, tinha plena consciência de que iria ser difícil. Estou preparada para lidar com a solidão, mesmo nos dias em que a saudade aperta mais. É duro estar longe, mas sabemos que é para o nosso bem, para o nosso desenvolvimento, tanto físico como mental.
Mantém o desejo de continuar ligada ao futebol português no futuro?
-O futuro é sempre uma incógnita. Gostava, sim, de regressar a Portugal. Talvez não seja para já, mas existe claramente esse desejo de voltar a jogar no meu país.
Como olha para esta edição da Liga BPI e quem vê como principal candidato ao título?
-A luta parece voltar a ser entre Benfica e Sporting, como tem acontecido nos últimos anos. São duas equipas com plantéis muito competitivos, por isso, pode cair para qualquer um dos lados. Por ter amigas lá, confesso que espero que caia para o lado do Sporting...
Natal e a passagem de ano serão onde?
-Vou passar aqui, na Grécia. Com poucos dias de férias, torna-se difícil ir à Madeira.
Que desejos leva para 2026??
Para o próximo ano, o principal desejo é continuar saudável, sem lesões. Em termos futebolísticos, espero que surjam boas oportunidades e que possa continuar a evoluir e a fazer crescer a minha carreira.
Um futebol diferente e fãs muito apaixonados
Paula Fernandes traça o retrato do futebol grego, um campeonato ainda em desenvolvimento, onde muitas equipas "apostam num jogo mais direto e menos elaborado". No entanto, destaca o OFI Creta como "uma exceção", porque a equipa pratica um futebol "mais estruturado e moderno".
Outro ponto que salta à vista da defesa madeirense é a intensidade fora dos relvados. "No OFI, os nossos adeptos são muito entusiastas, vibram em todos os momentos e apoiam-nos sem cessar, algo que nem sempre se sente noutros clubes do campeonato. Sinceramente, nunca vi tal coisa. Esta mistura de desafios e paixão dos adeptos contribui para tornar esta experiência ainda mais única e motivadora".
