"As pessoas criticavam: 'O futebol não é para ti, o teu lugar não é aqui'"

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Aos 20 anos, Mylena Freitas mudou-se para Portugal para representar o Famalicão, equipa que disputa a fase de Apuramento de Campeão. Na curta carreira, "a Europa sempre foi um objetivo".
Com vontade de vingar no futebol, Mylena saiu de casa cedo em busca de concretizar esse sonho. As saudades são o mais complicado, mas a família, mesmo longe, é o principal pilar da atleta.
Portugal é a sua primeira experiência fora do Brasil. Como está a ser?
- O meu sonho sempre foi jogar fora do Brasil. Está a ser uma grande experiência, por ser a minha primeira vez na Europa, estou a aprender muito aqui. As minhas colegas também me têm ajudado bastante. No início foi muito difícil, mas com a ajuda delas e de todos, estou a conseguir.
Mudou-se para Portugal sozinha?
- Sim, mas eu já estava habituada a estar longe de casa. Antes de vir para Portugal, estive um ano e cinco meses em Santa Catarina, a jogar pelo Kindermann, que é longe do Rio de Janeiro, são cerca de sete horas. Essa fase foi a pior, por ser a minha primeira experiência longe de casa, mas sinto que foi uma preparação para depois sair do Brasil. Foi lá que senti mais saudades, aqui já sinto que estou mais habituada a estar longe de casa. Mas antes, um dia parecia um mês.
O que tem sido mais complicado nesta aventura?
- Primeiro de tudo foi habituar-me ao horário, aqui são mais três horas do que no Brasil. Nas primeiras semanas, dormia muito tarde para acordar cedo e isso cansou-me bastante no primeiro mês. Acho que também foi por isso que as coisas não correram tão bem. Já para não falar do frio...
No último jogo do Famalicão, marcou cinco golos. Foi um momento inédito na sua carreira?
- Fiquei muito feliz por ter feito os cinco golos... Sim, foi a primeira vez que tal aconteceu na minha carreira. Já não marcava há algum tempo e estava a sentir falta disso. Os golos são importantes para conseguir estar mais confiante.
Os seus pais estão longe, como é que reagiram a este seu desempenho no encontro?
- A minha mãe ligou-me, e disse que eu tinha jogado muito bem e que estava muito feliz por mim, por saber que era uma coisa que eu queria fazer há algum tempo. É muito importante para mim ouvir estas coisas para continuar. O futebol não requer só da nossa parte física, mas também da psicológica.
Como é que a família reage a esta distância?
- Os meus pais ficam tristes, mas, ao mesmo tempo, felizes por eu estar a conseguir uma coisa que queria desde pequena, que é jogar futebol. Se eu estou feliz, eles também estão felizes. E isso motiva-me muito.
Voltando ao Famalicão, o que se pode esperar da equipa até ao final da época?
- Nesta segunda fase tivemos jogos muito difíceis, mas isso só nos fez trabalhar mais. O nosso objetivo é sermos sempre melhores.
Sente que há muita diferença entre o futebol feminino em Portugal e no Brasil?
- Sim, aqui há mais intensidade e pressão. Quando cheguei foi difícil para me adaptar por ser tão diferente, por exigir mais de nós fisicamente. Mas estou a gostar muito do campeonato português e desta experiência em Portugal.
Alguma vez sentiu algum preconceito?
- Sim, quando comecei senti preconceitos. As pessoas criticavam, diziam coisas menos boas como, por exemplo: "o futebol não é para ti", "o teu lugar não é aqui, tu és fraca". Essas palavras motivaram-me bastante. As críticas acabaram por ser mais uma forma de incentivo.
