<strong>O JOGO - 35 ANOS || 2005 || A VÉNIA DE TICHA PENICHEIRO -</strong>Mítica basquetebolista, em Portugal e nos Estados Unidos, vence a WNBA. Hoje, homenageia Mery Andrade.<strong> </strong>
Corpo do artigo
Ser "uma mulher no meio dos homens, a lutar pela igualdade das mulheres e a tentar demonstrar que tem mérito suficiente para o fazer" é razão mais do que suficiente para Ticha Penicheiro (45 anos), a melhor basquetebolista lusa de todos os tempos, eleger Mery Andrade (44) como figura que mais admira.
Mulher no meio dos homens, a agora treinadora fala de Ticha Penicheiro como uma irmã e de uma amizade três décadas
Nos anos 1990, as duas deram os primeiros passos como embaixadoras de Portugal, que os norte-americanos pensavam ser uma aldeia do Texas, ao coincidirem na mesma universidade (Old Dominion), começando a viver um sonho e a desbravar um mundo novo quase ao mesmo tempo.
Curiosamente, ambas continuam no mais alto nível do outro lado do Atlântico: desde que se retirou (2012), Ticha é "uma das agentes de jogadoras mais prestigiadas dos Estados Unidos, só representa nomes de topo", segundo Mery, que, por seu turno, é esta época treinadora adjunta dos Erie BayHawks da G-League, a equipa satélite dos New Orleans Pelicans, da NBA.
"Ela é como uma irmã para mim. Conhecemo-nos desde os 15 anos e passámos um bom bocado do nosso percurso juntas. Diz que fui importante para ela, mas ela é que foi muito importante para mim. No primeiro estágio que fiz, eu tinha três meses de basquete. Estava com medo, não conhecia ninguém e ela disse-me: "Está descansada que vamos ser as melhores amigas". E foi mesmo. Quando escolhi ir para Old Dominion, foi por causa da Ticha. No primeiro ano dela lá, íamos falando e dizia-me: "Quando chegares, vai ser mesmo bom". Cultivou em mim isso de fazermos algo juntas", recorda Mery, que jogou na WNBA por Cleveland Rockers e Charlotte Sting, prosseguindo como profissional em vários clubes de Itália.
11880898
Em 2015, e já depois de representar a Quinta dos Lombos, Mery retirou-se para abraçar a carreira de treinadora. Os quatro anos seguintes foram passados como assistente na Universidade de San Diego, o que lhe permitia encontrar Ticha. "Como eu estava a treinar na universidade, a final-four da "March Madness" passou a ser o nosso ponto de encontro anual. Íamos ao Starbucks comer qualquer coisa, víamos jogos juntas, íamos jantar fora a seguir... Mas falamos com regularidade. É engraçado que, quando ela me manda mensagem, diz sempre o mesmo: "Olá amiga, tudo bem? Ainda estás a gostar?" [risos]", conta a antiga internacional portuguesa, que sempre teve a ideia de vingar entre os homens.
"Via a NBA, ouvia o Carlos Barroca e a única referência que tínhamos era o Michael Jordan. Não havia WNBA, dizíamos que queríamos ser como o Jordan. Daí pensar desde cedo em treinar masculinos, era o mais alto nível a que se podia aspirar", completa.
Em janeiro do ano passado, Mery aproveitou um curso que dá oportunidade a antigos atletas de serem treinadores profissionais, sendo selecionada para um estágio e vários torneios, um deles o NBA Draft Combine, durante o qual surgiu o convite dos Pelicans.
"Tudo o que seja desafio, eu gosto. Neste caso, é estar num país que não é o meu, ainda com uma mentalidade masculina. Não é fácil, porque ainda não é a norma. Às vezes, sinto-me pioneira. Estou a abrir portas para quem vier depois. É algo que eu e a Ticha temos em comum", conclui.