Estão na linha da frente na luta à covid-19, mas vizinhos e senhorios só querem vê-los pelas costas.
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Em O JOGO, já tínhamos dado conta do fenómeno espanhol "Gestapo del balcón [da varanda]", em que vigilantes à janela insultavam quem viam na rua, muitas vezes acertando em profissionais de saúde ou operadores de supermercado. Seria de pensar que isso era o pior, mas o medo, o egoísmo e a desinformação ainda tinham outro patamar para atingir.
A imagem viral de um carro de uma médica espanhola vandalizado com a inscrição "rata contagiosa" é apenas um exemplo da discriminação que homens e mulheres na linha da frente do combate à covid-19 têm sofrido em países como Espanha, França ou México. Multiplicam-se as mensagens afixadas pela vizinhança a reconhecer o "bom trabalho", mas a pedir a estas pessoas que mudem de casa ou não voltem.
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Apesar de serem exemplos em minoria, causam repulsa e levaram a polícia espanhola a avisar: "São delitos de ódio, denunciáveis, reprováveis e passíveis de serem julgados." De nada valeu, no entanto, a Clara Serrano, que contraiu o vírus e foi expulsa pelo senhorio. Com a ajuda do sindicato, está num hotel aberto a profissionais de saúde e fez a viagem para lá com outro companheiro de profissão, debilitado pela febre e sem casa. Também há quem se tenha deparado com manchas de lixívia na porta, enquanto no México uma enfermeira foi atacada com café a ferver e o grito "vais contagiar-nos a todos". "Não se preocupem, já se contagiaram...de indecência", diz uma dos milhares de mensagens de revolta nas redes sociais.