Não se sabe exatamente quantos casos de covid-19 existirão no Turcomenistão. Certo é que o Irão, país vizinho, é um dos mais atingidos pelo coronavírus.
Corpo do artigo
"O problema não existe se você não falar dele" é, pelos vistos, aquilo a que se pode chamar a terceira da via na abordagem à pandemia provocada pelo novo coronavírus.
Se a esmagadora maioria dos países optou por regras de isolamento social e a Suécia parece seguir um caminho menos "austero" - ideia abandonada, entretanto, por Boris Johnson, Donald Trump e Jair Bolsonaro -, há um estado na Ásia Central que decidiu combater a doença covid-19 com um decreto. Assim mesmo, uma lei que proíbe o coronavírus.
Sendo possível assegurar, com certeza absoluta, de que o vírus não estudou Direito e nem tão pouco será cumpridor de leis, a verdade é que no Turcomenistão há quem acredite que estamos enganados. E que uma lei, juntamente com uma receita popular antiga - inalar o fumo de Arruda Síria - afastará a covid-19 da ex-república soviética.
Vamos aos factos? Segundo diversas ONG, o governo do Turcomenistão decidiu banir o termo coronavírus de todas as publicações oficiais e passou a prender todas as pessoas que usam máscara na rua. Ou que pronunciam o nome da pandemia em público. Este artigo, está bom de ver, nunca poderia ser publicado num meio de comunicação daquele país asiático.
Mas, afinal, de que país e de que governo estamos a falar? No Turcomenistão estes dois conceitos confundem-se com Gurbanguly Berdimuhamedow, o ditador que governa desde 2007. Antes disso, era o médico do ditador anterior.
Há quem lhe chame "excêntrico", outros preferem "autoritário". Mas uma coisa é certa, Berdimuhamedow determinou que a palavra desaparecesse da comunicação social do país - toda ela controlada, claro - e das conversas privadas dos quase 6 milhões de habitantes do país. Há relatos da Radio Free Europe que refere a detenção de habitantes da capital Asgabate pelo simples facto de terem sido apanhadas a falar de covid-19.
Num país que frequentemente surge na última posição da liberdade de imprensa, até atrás da mais mediática Coreia do Norte, o termo coronavírus foi retirado também das brochuras que eram distribuídas pelo governo nos hospitais e escolas. No seu lugar, são usadas expressões "enfermidade" ou "doença".
Perante tudo isto, não se sabe exatamente quantos casos de covid-19 existirão no Turcomenistão. Certo é que o Irão, país vizinho, é um dos mais atingidos pelo coronavírus.
Apesar da proibição da palavra, a ex-república soviética tomou algumas medidas para conter a doença, seja através do encerramento de fronteiras, seja através da imposição de bloqueios nas estradas.
Quem o presidente do Turcomenistão?
Gurbanguly Berdimuhamedow, atualmente com 62 anos, governa o país desde 2007. Dentista, foi ministro da saúde e médico do anterior ditador, Saparmurat Niyazov. Apresentado como "pai protetor", é retratado como um escritor, compositor e atleta. Sabe-se pouco de Berdimuhamedow, apenas que tem uma paixão por dois artigos de luxo - carros e cavalos - e que a sua obsessão por cavalos é tal que o seu gabinete presidencial é decorado com variadas imagens desse animal.
Em 2017, conquistou mais um mandato presidencial - recolhendo, segundo dados do governo, 97,69% dos votos -, continuando no poder num país apresentado como sendo um dos mais fechados do mundo, a par da Coreia do Norte.