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Bernard Lacombe, conselheiro do presidente do Lyon nas contratações, vai directo ao assunto. "O respeito pelo trabalho do FC Porto é enorme. Vão buscar jogadores desconhecidos que se tornam rapidamente conhecidos. Depois conseguem projectá-los de um dia para o outro e acabam por vender a um preço espectacular, o que só prova que devem ter um excelente departamento de prospecção". Numa altura em que se noticiaram as contratações dos praticamente desconhecidos Iturbe e Kelvin, a questão é: o que faz do FC Porto montra preferencial para quem vende e compra?
Entre os múltiplos ecos de satisfação ouvidos por O JOGO, há histórias que ajudam a montar o puzzle da resposta. "Quando estava no Japão, o Hulk foi abordado por dois clubes da Europa que jogavam na Champions. Mas um dia surgiu Antero Henrique, que nos convidou a vir à Europa conhecer o FC Porto. Conhecemos o clube, o estádio, o centro de treinos, toda a história e, realmente, hoje estamos convencidos de que escolhemos a melhor porta para a Europa", conta Teodoro Fonseca, representante do Incrível. Mas, incrível mesmo é a história de Cissokho, adquirido ao Setúbal, em Janeiro de 2009, por pouco mais de 300 mil euros e vendido seis meses depois ao Lyon, por 15 milhões de euros. É o exemplo mais inequívoco de rentabilização supersónica.
Numa altura em que economistas e empresários insistem na importância de potencializar marcas como forma de reconhecimento do mercado e garantia de qualidade para fidelizar clientes, o FC Porto aparece como referência incontornável em termos de mercado de transferências. Só nos últimos dez anos, os azuis e brancos facturaram mais de 350 milhões euros em vendas de jogadores, dominando claramente a tabela das maiores negócios de sempre do futebol português e abastecendo, quase sempre no Verão, muitos emblemas europeus. Quase sem reclamações: clubes vendedores que conservam fatias de passe de jovens promissores porque confiam em mais-valias futuras; empresários e clubes compradores dizem ter no FC Porto um certificado de garantia. Iturbe e Kelvin parecem reforçar a aposta clara no reabastecimento da montra. Os responsáveis portistas perceberam que a única forma de contornar a exiguidade do mercado nacional passava por adquirir jogadores de qualidade mais ou menos reconhecida, ou jovens com potencial, aos quais a estrutura técnica do clube podia acrescentar valor, projectando-os através das competições europeias. A esta política juntou-se a conquista da Taça UEFA, em 2003, e da Liga dos Campeões, no ano seguinte, catapultando ainda mais o clube para o topo da Europa futebolística. Conquistada a notoriedade nos relvados, mais atractivo se tornou o clube para jogadores sem espaço noutros mercados, mas que encontraram no FC Porto tempo para crescer. Nem todos crescem como o FC Porto gostaria, e há também algumas apostas ao lado, mas, olhando para o saldo dos lucros, esses enganos estão devidamente compensados...