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>"Estive 24 dias em coma..."
Final da Liga Europa. FC Porto vence e Helton é o primeiro a levantar o troféu. "Não foi fácil a minha caminhada até ter chegado ali. E não me estou a referir ao futebol, mas sim à minha vida pessoal. Vencer a Liga Europa depois de tudo o que eu passei é algo de absolutamente fantástico". A resposta levantou a dúvida; afinal quais foram essas dificuldades. Helton recuou alguns anos e contou, emocionado, algumas histórias "difíceis" da adolescência. "Quando tinha 12 anos, passei 24 dias em coma, depois de ter caído de uma árvore pé de jamelão. Tive um coágulo de sangue no cérebro e fui obrigado a tomar um medicamento chamado Adrenal durante dois anos. Subi à árvore, mas escorreguei e caí de cabeça. Devia achar que era o Super-Homem". Hoje, Helton fala do assunto sem preconceitos, apesar de reconhecer que nem sempre foi assim. "Venho de uma família pobre e já tinha ido fazer testes ao Fluminense. Eles quiseram ficar comigo, mas, como não tinha dinheiro para as viagens, acabei por não conseguir ir para lá; um pouco mais tarde, fui ao Flamengo e também passei nos testes. Mas quando ia começar a treinar, aconteceu o tal acidente". Mas Helton não desistiu. Aos 15 anos, e depois de um longo período de recuperação, tentou novamente, desta vez no Vasco da Gama, e voltou a ser bem sucedido. E, daquela vez, nem o dinheiro foi problema para atingir o sonho de ser jogador de futebol. "Tinha um amigo que era DJ, chamava-se Sérgio Magoo, e ele tinha conhecimentos numa companhia de autocarros. Falou com os motoristas e passei a ir para o S. Januário [local dos treinos no Vasco] sem pagar. Eram cerca de 60 quilómetros de viagem todos os dias". A história que se seguiu mete música, novamente por influência do amigo, a quem faz questão de prestar um tributo. "Ele foi uma pessoa muito importante na minha vida; acompanhou-me quando tive o acidente e até cheguei a morar na casa dele. Para além disso, ele também me deu um empurrão na música". Pois é, Helton também foi DJ, por volta dos 17 anos. E tudo para ganhar um dinheiro extra. "Quando ainda estava nos escalões de formação do Vasco, tínhamos um jogador na equipa principal que se chamava França. Ele organizava algumas festas no condomínio onde morava e contratava-me sempre para meter música. Assim, aproveitava para ganhar mais algum dinheiro. Mas já nessa altura adorava música". Uma paixão que se prolonga até hoje.