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>A estátua
Shakira Isabel (dito assim, quase se pode ouvir a mãe da estrela precoce da música mundial a mandá-la parar com as cantorias e ir pôr a mesa), que o mundo conhece apenas pelo primeiro nome, tem uma estátua em Barranquilha, cidade onde nasceu. A selecção do Brasil visitou-a, sem que isso explique o empate com o Egipto. A estátua não faz justiça à beleza da cantora nem das compatriotas, que, sem o saberem, desafiam a elasticidade dos pescoços europeus neste Mundial. Morenas, voluptuosas, reflectem a bondade da natureza local, mas também têm os seus segredos: um dia destes dei por mim a olhar para as redondâncias, chamemos-lhes assim, da funcionária da loja onde me prometiam ressuscitar o telemóvel. Era uma curiosidade técnica - para mim, claro; para os homens em redor, era um suplício de discrição, a subir e descer um escadote nos seus saltos altos e calças justas. Se um arredondamento do volume frontal é fácil de conseguir (qualquer sutiã nos transfigura, chega a ser desonesto), já o traseiro é indisfarçável, e aquele parecia as metades perfeitas de uma esfera demasiado perfeita para ser natural. Agora que sei que Cali tem uma anormal oferta de profissionais da cirurgia plástica, entendo melhor a figura, que também não é espelho das colombianas. Elas são de uma beleza natural - e eu, uma europeia esquálida, circulo entre elas feliz só por saber que é assim tão simples reclamar o que, desafortunadamente, a natureza negou. Chego a sentir-me como se enfrentasse o mundo com uma copa D, tamanho 40.