Basquetebol

Fernando Sá: "Há pessoas com profissões de que não gostam ou salários que não reconhecem o seu esforço" 

Fernando Sá Artur Machado / Global Imagens

ENTREVISTA, PARTE II - Fernando Sá sempre ambicionou treinar o FC Porto, esperou 20 anos pelo seu momento e os primeiros meses entusiasmam: surpreende na Europa e pode liderar a Liga

Numa entrevista à revista Dragões, Teyvon Myers, de 28 anos e estreante em Portugal, disse sentir-se "abençoado por ter um treinador como o Fernando Sá", enaltecendo o facto de que "entende aquilo que vivemos física e mentalmente", encestando com um: "Adoro isso!"

Como reagiu aos elogios do Myers?
-Sabendo os riscos que os treinadores correm quando temos este tipo de embelezamento... posso estar errado, mas não acredito naquela liderança de há uns anos, marcada pela imposição, castigo e má disposição. Pode por vezes funcionar, mas não é prolongada. O tipo de liderança com que me identifico demora mais tempo a conseguir e às vezes não se consegue. Mas, quando se consegue ter sucesso, existe uma base para sempre, desde que os jogadores saibam quais os limites e desde que eu saiba quais os meus em relação aos jogadores.

É o chamado respeito profissional e pessoal...
-Nós não estamos sozinhos neste mundo. Temos de estar de olhos bem abertos, ter capacidade de olhar para o lado e perceber se está tudo bem. É algo muito simples, mas agora parece que não estamos preocupados com quem está ao nosso lado. Só espero ter êxito com este meu modo de trabalhar.

O plantel tem jogadores do passado e outros novos. Está feito à sua medida?
-Tenho um plantel que, se tivesse de escolher, escolheria os mesmos. Aliás, os jogadores que transitam da época anterior são realmente talentosos. Têm a identificação com o clube bem enraizada e têm tido um papel fundamental na integração dos jogadores que foram contratados e não conheciam o clube. Neste momento, após cinco meses de trabalho, estou muito satisfeito.

Onde está o aliciante, face a tanta responsabilidade?
-Na paixão pelo clube e pela modalidade. Sou um privilegiado, sabendo que há pessoas com profissões de que não gostam ou com salários que não reconhecem o seu esforço diário.

"Longe dos meus fico sufocado"

Quando começou a jogar, era mais do Vasco da Gama ou do FC Porto?
-Não tinha alternativa. FC Porto, sempre. Tive uma educação em que era quase impossível chegar a casa e pensar que éramos de outro clube. Sou de uma família totalmente portista, um pai sempre ligado ao desporto e ao clube de variadíssimas formas. Dou muito valor ao facto de ser portista e portuense.
Era também impossível não ter optado pelo basquetebol?
-Isso era totalmente possível. Sou o mais novo de 11 filhos e os sete mais velhos jogaram hóquei em patins. O meu pai era presidente do Fânzeres e só os quatro últimos é que enveredaram pelo basquetebol.
Nunca pensou treinar no estrangeiro?
-Já tive alguns contactos, mas não me entusiasma. Gosto de estabilidade, fico um bocadinho sufocado longe dos meus, e depois já sei que a saudade se apodera das minhas emoções e não sei se seria capaz de ter muito sucesso.

Manuel Perez