"Tenho uma ambição desmedida e uma crença muito real de que podemos conquistar títulos"
ENTREVISTA, PARTE I - Fernando Sá sempre ambicionou treinar o FC Porto, esperou 20 anos pelo seu momento e os primeiros meses entusiasmam: surpreende na Europa e pode liderar a Liga. Diz que seria impossível não ter nascido portista e portuense. Deixou o ensino para ocupar, esta época, o banco de sonho do basquetebol do FC Porto e, em cinco meses, montou uma equipa à sua imagem.
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Com 53 anos, Fernando Sá é aquilo a que se pode chamar de um bom gigante. Tem tanto de altura como de compostura e tal fica provado nesta conversa com O JOGO, no Dragão Arena, o novo posto de trabalho, mas também a sua verdadeira segunda casa. Usou um par de vezes a expressão "muito satisfeito" para retratar alguns episódios deste regresso.
Sendo o FC Porto o clube onde se destacou como jogador, estava-lhe destinado ser treinador?
-Não faço ideia, mas era algo que eu ambicionava. Quando aqui deixei de ser jogador, sempre achei que um dia poderia regressar. Concretizou-se nesta altura, foi o tempo que foi, espero que seja o tempo certo e que realmente seja o que todos esperamos.
Enquanto treinador do Vitória (Guimarães), como viu as vivências do basquete portista, desde a era Dragon Force, até à eventual saída da Liga?
-Nunca acreditei muito que isso viesse a acontecer. Quer em termos pessoais como profissionais, a minha primeira fase adulta foi vivida aqui. Se tal acontecesse iria custar-me muito. Quanto ao período Dragon Force, não sei muito bem como se desenvolveu.
Já se imaginou 13 anos aqui, tantos quantos esteve no Vitória?
-Quero ficar enquanto me sentir bem e o FC Porto achar que sou útil. Em termos de paixão clubista, as coisas estão perfeitamente definidas. Serei portista toda a vida, a paixão não vai mudar, mas, em termos profissionais, as coisas são bem distintas. O FC Porto é um clube de vitórias e quero ver o basquetebol a ter sucesso, no topo de um trabalho tranquilo. Ao cabo de cinco meses, estou muito satisfeito.
Mudou alguma coisa no nosso basquetebol durante os três anos que passou a lecionar?
-Mudou claramente a exigência e, quanto ao basquetebol propriamente dito, nunca me afastei por completo. Estive a estagiar no Nanterre, fiz cursos com treinadores da Euroliga e da ACB. Tentei manter-me atualizado perante as tendências que o basquetebol mostrava seguir.
E a (re)adaptação ao clube?
-Parece que nem foram vinte anos os que estive fora, mas apenas dois dias. Fui muito bem recebido, por gente que já conhecia há muitos anos, e está tudo a funcionar muito melhor do que estava à espera.
Cumpridos os primeiros cinco meses, a equipa pode vir a ser líder da Liga Betclic e já atingiu o objetivo europeu...
-Na Taça da Europa ninguém esperava que fizéssemos alguma coisa, mas a verdade é que houve uma jornada em que fomos à Roménia vencer num campo extremamente complicado e frente a um adversário fortíssimo. Por tudo aquilo que vem sendo feito até agora, dou os parabéns aos meus jogadores. Exigem-me constantemente mais trabalho, o que já não me surpreende. Estou preparado para tudo. Isto faz-me sentir cheio de esperança, com uma ambição desmedida e uma crença muito real de que podemos conquistar títulos.
Promessas para 2023: "Dar tudo e nunca envergonhar o nosso clube"
Solicitado a deixar ao adepto portista uma promessa para 2023, o treinador Fernando Sá garante que a sua equipa irá "fazer mais do que tem sido feito", descrevendo o processo a curto prazo: "Sentimos alguma descredibilidade no início, mas estamos devagarinho a conquistar a confiança do adepto e isso é o mais importante. Viver num ambiente saudável ajuda muito e leva também a prometer, ou dar como garantido, que lutaremos por títulos de uma forma muito séria. Quero chegar ao fim desta primeira época com a mesma sensação do adepto: dar tudo e nunca envergonhar o nosso clube".