Filipe da Silva, radicado em França, onde é adjunto no Nanterre 92, é um seguidor atento da Liga Portuguesa e da participação dos clubes lusos na Europa, estabelecendo diferenças. Com grande parte da carreira feita além-fronteiras, mas "mais português do que francês", o antigo internacional nota crescimento no basquetebol nacional, apesar do fator financeiro.
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Filipe da Silva deixou Portugal no final de 2006/07, quando estava prestes a desaparecer a Liga de Clubes, que só durou mais uma época, mas ficou na história por ter ido a dois Campeonatos da Europa, em 2007 e 2011. Mesmo à distância - retirou-se em 2016 e passou a membro da equipa técnica do Nanterre em 2018 -, o antigo base, agora com 43 anos, tem notado melhorias.
"A imagem está a mudar. Com a presença dos clubes nas competições europeias, os treinadores portugueses estão a conhecer outra realidade, ao estudar o adversário. Da mesma forma, os adversários vão ter de estudar as qualidades das equipas e dos treinadores portugueses", constata o técnico a O JOGO.
Além de ver todos os jogos da campanha europeia de Benfica, FC Porto e Sporting, Da Silva assiste a praticamente todas as jornadas da Liga Betclic. "Tenho colegas treinadores, miúdos da seleção universitária que estou a seguir. Ao mesmo tempo, faço scouting. Há muito bons americanos na Liga portuguesa, que um dia podem ter mercado em França ou em outros países. A minha paixão também me puxa", explica.
Conhecedor das duas realidades, Da Silva afirma que "a primeira diferença está nos orçamentos". "Em 2016, comecei a treinar na quarta divisão. O orçamento era de 800 mil euros, 350 mil mesmo para a equipa. Se calhar, na primeira divisão portuguesa, há poucos clubes que têm esses valores. Quando se começa com um nível financeiro importante, já é diferente. No Nanterre, o nosso orçamento é de cinco milhões e temos mais de 30 pessoas a trabalhar no clube", exemplifica.
Ainda assim, o luso-francês defende que "hoje em dia, ter menos bolas, ou menos campos, já não impede o treinador de trabalhar". "Com as novas tecnologias, e as redes sociais, os treinadores têm mais facilidade no acesso a conteúdos. Estão mais curiosos e têm vontade de ser mais profissionais no dia a dia", vinca, dizendo-se "de portas abertas" para ser visitado por colegas, como já aconteceu com Fernando Sá, Pedro Nuno, Miguel Miranda e Vasco Pais.
A orientar o Nanterre desde 2018
Num campeonato com visibilidade internacional, até pela presença do fenómeno Victor Wembanyama, já destinado à NBA, mais a participação de ASVEL Lyon-Villeurbanne, de Tony Parker, e de Mónaco na Euroliga, Filipe da Silva tem crescido no Nanterre, onde chegou em 2018, para ser o braço direito do técnico Pascal Donnadieu.
Responsável por orientar a pré-época e os treinos diários, o antigo internacional também já dirigiu a equipa em jogos oficiais. "Já foram 12, entre campeonato, Taça de França e EuroCup. Ganhei nove em 12. Estou num sítio onde têm confiança em mim e acreditam nas minhas capacidades. Isso não posso esquecer. Vamos fazer um balanço a meio da época, para decidir o futuro. Está previsto que seja em fevereiro", conta, acrescentando que esta temporada tem sido "de altos e baixos", depois de os dois postes terem estado lesionados três meses.
Apesar disso, o Nanterre (11.º) ainda luta pelos oito primeiros lugares, os do play-off.