Portugueses

"Almería? O que aconteceu foi que não nos deixaram terminar o que iniciámos"

José Gomes, treinador português Helder Santos/Aspress/Global Imagens

ENTREVISTA, PARTE I - Trabalho de José Gomes foi muito apreciado em Espanha, até pelos técnicos adversários, e por isso não tem dúvidas de que abriu mais uma porta, num país onde a exigência é muito grande.

Não correu como desejado a última experiência profissional de José Gomes. O treinador português mudou-se para o Almería, depois de uma campanha muito bem sucedida no Reading, de Inglaterra. No final de abril, com a equipa em sexto lugar - e era até a mais goleadora da prova, fruto de um futebol ofensivo de qualidade, como foi reconhecido pela Imprensa espanhola - terminou a ligação por vontade dos dirigentes. O objetivo de subir ainda estava ao alcance. E é isso que José gomes mais lamenta...

Afinal, o que é que correu mal no Almería?

-É evidente que se olharmos para trás, nem tudo correu bem, mas também ninguém pode dizer que as coisas correram mal. O que aconteceu foi que não nos deixaram terminar o que iniciámos. Nunca ninguém vai saber como é que seriam as coisas se nos tivessem deixado concluir o projeto.

Em termos de imagem, realmente, não correu mal, porque leram-se muitos elogios ao seu trabalho...

-A nossa qualidade de jogo foi realmente muito elogiada, pela imprensa espanhola, por colegas de outros clubes, e não deixou de espantar até treinadores adversários. Muita gente não percebeu a minha saída. Houve alguns resultados que fugiram às nossas expectativas, é verdade, mas se olharmos para trás para ver como correu a época, sinceramente, acho que foi muito positiva, teve mais coisas boas do que más.

Foi bem recebido em Espanha?

-Quando chegámos, olharam-nos com alguma desconfiança. A minha única experiência em Espanha tinha sido no Málaga, como adjunto do professor Jesualdo Ferreira, e aí as coisas não correram bem. Acho que isso contribuiu para essa desconfiança inicial, mas a partir do momento que o campeonato começou esse sentimento mudou e recebi o reconhecimento de muita gente, inclusive de outros treinadores, que elogiaram muito a nossa forma de jogar. Digamos que tirando essa desconfiança inicial, sim, fui muito bem tratado em Espanha.

É muito diferente trabalhar em Espanha em relação a outros países onde já esteve?

- Cada país tem as suas particularidades. Em Espanha, na área técnica, é mais exigente, por exemplo, do que em Inglaterra, falo pela minha experiência no Championship. A variabilidade do ataque em Espanha é muito superior, e isto aplica-se a todas as equipas, que são muito fortes na preparação dos esquemas de ataque e isso dá uma competitividade altíssima. Tive que me adaptar a esse futebol, apresentei algumas coisas diferentes. A qualidade dos jogadores que as equipas mais fortes espalham pela segunda liga é enorme e dá uma grande força.

Não é comparável a II liga espanhola com a portuguesa?

-Não, não é comparável. À exceção dos quatro/cinco primeiros classificados em Portugal, todas as outras equipas iriam ter dificuldades em aguentarem-se na II liga espanhola.

E isso acontece porquê, falta de organização em Portugal?

- Tem a ver com a qualidade dos jogadores. Todas as equipas em Espanha têm muitos jogadores de qualidade; não estou a dizer que os jogadores portugueses não têm qualidade, mas não nos podemos esquecer que a população espanhola é cinco vezes maior do que a portuguesa; há maiores possibilidades de recrutamento e de encontrar bons futebolistas.

Carlos Pereira Santos