ENTREVISTA, PARTE II - Miguel Silva, guarda-redes de 29 anos, garante que atingiu o auge da carreira em Israel e partilha orgulho pela conquista da Taça.
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O futebol israelita é conhecido pelos adeptos fanáticos, mais ainda os do Beitar. Sente isso?
-Sim, sem dúvida, e logo desde o dia em que cheguei, em que fizemos um jogo para a Taça que ficava no norte, quase no Líbano, fizemos três horas e meia de autocarro para um jogo com muito frio e muita chuva. Tínhamos à vontade uns três mil adeptos. Num segundo, passados três dias, outra vez no norte, este ainda mais junto da fronteira com o Líbano com as mesmas condições atmosféricas, estavam dez mil adeptos. Eu fiquei logo maravilhado, o que é isto! Foi, desde logo, algo que deu para sentir a força e o fanatismo dos adeptos do Beitar. Em relação à ligação com o clube também ajuda o carinho que recebi desde o primeiro dia. Fomos criando uma linda ligação, antes do aquecimento, logo nos primeiros jogos, começaram a cantar o meu nome e a dizer para ir ter com eles. Aplaudiam imenso e isso foi mágico, pois nunca tinha sentido nada igual. Depois de cada jogo sentia orgulho nisso, pois sentia que as pessoas gostavam realmente de mim e valorizavam-me pelo meu trabalho. Encheram-me o coração e fizeram com que quisesse dar sempre mais e mais por eles, retribuindo esse conforto e respeito desde o primeiro dia.
E já consegue extravasar com eles de megafone, que era uma imagem de marca em Guimarães?
-Em Israel tem sido como referi anteriormente, sempre mostraram muito apreço por mim e, este ano, já aconteceu ter ido cantar com eles no final dos jogos, aproveitando o microfone do estádio.
Falando da experiencia social, há episódios de choque cultural?
-Que me lembre, só um episódio. Estávamos a almoçar em família num restaurante de sushi e, como os miúdos não comem esse tipo de comida, fomos a um McDonalds nas proximidades comprar nuggets. Tínhamos a caixa em cima da mesa e vieram dizer-nos que não podíamos, porque o restaurante era kosher, isto é, com regras alimentares regidas em função da lei judaica, e que não permitia aquele tipo de comida.
Mais difícil ter estrangeiros
Olhando a este trajeto que vai para a terceira temporada no país, como classifica a vida desportiva e social em Israel?
-Em termos desportivos tem sido proveitoso. Na primeira época conquistámos a Taça de Israel, a segunda já não foi boa a nível coletivo, mas foi bastante satisfatória individualmente. Até porque se deu a minha renovação por mais duas épocas. Em termos sociais também só tenho a falar bem, fiz bastantes amizades e encontrei um povo com grande coração. Vejo-os sempre dispostos a ajudar, sempre preocupados com quem é de fora e com pressa de nos fazer sentir bem aqui.
Futebolisticamente como avalia o atual estado do campeonato e as condições e ambições que têm pautado as campanhas do Beitar?
-O atual estado da competição sofreu alterações e é muito mais difícil trazer jogadores estrangeiros com toda esta situação, mas continua a ser um campeonato competitivo, com boas equipas, bons ambientes e boas condições de trabalho. Quanto a campanhas, o Beitar é um clube grande em Israel, que já foi campeão várias vezes e que, depois atravessou um período complicado, mas que se tem vindo a reerguer, fazendo alterações no centro de treinos. Também continuam a pagar uma dívida grande deixada pelo antigo presidente, que parece perto de se resolver na plenitude. O Beitar reforçou-se bem dentro do campeonato e acredito que temos equipa para poder ambicionar mais qualquer coisa. Posição europeia tem de ser uma obrigação.
Não se podendo fugir de uma Taça de Israel que conquistou, como são recordadas as emoções desse dia?
-É um dia que vou recordar sempre na minha vida, guardarei tudo o que vivi. Foi tudo mágico, do ambiente inicial à festa que se fez depois. O Beitar levava, se não me engano, treze anos sem conquistar qualquer troféu. Dessa forma, ficou tudo louco com a conquista da taça, foi algo inimaginável, foi uma festa realmente muito bonita de uns adeptos muito apaixonados pela sua equipa. Eu adoro isso, adoro adeptos que são realmente ligados ao seu clube e dão tudo por ele, seja em casa ou fora, estão sempre lá e isso, enquanto jogador, dá-me muita alegria.