E-SPORTS - Federação Portuguesa de Futebol tem objetivos que extravasam as barreiras do entretenimento
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"Anda para casa, já chega!", "Vai brincar lá para fora, estás sempre em casa!". São duas frases típicas de pais para filhos, sendo que uma sucedeu à outra com o passar do tempo e com novas formas de o ocupar.
No entanto, trata-se de dois mundos que não têm de ser mutuamente exclusivos: esta, pelo menos, é a ideia da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), cuja nova temporada de e-sports dá os primeiros passos. Uma aposta entre muitos outros exemplos do quão vasto é já o alcance do gaming.
Na plataforma de e-sports da FPF, há 20 mil jogadores inscritos, mais de 260 clubes registados e já se realizaram mais de 12 mil partidas de FIFA e PES, os grandes simuladores de futebol. Todos os emblemas da I Liga e alguns da segunda já adotaram o futebol virtual - em outubro, o FC Porto criou uma das mais recentes equipas para competir no FIFA, em parceria com a Soccer Soul.
Vários torneios, do feminino ao universitário, vão apurar os 32 jogadores para as finais, marcadas para junho
Para a temporada 2020/21, a FPF projetou um circuito que procura levar o gaming a todo o lado. Através de vários torneios serão apurados os 32 gamers para a grande final, em junho, que coroará o campeão nacional. Os dois primeiros decorrem este mês e vão distribuir um prize pool superior a sete mil euros - para o Christmas Challenge as inscrições estão abertas a quem se queira aventurar. Haverá também um torneio para estudantes universitários (Roda Bota Fora) e, pela primeira vez, uma competição feminina.
Por fim, estão ainda reservadas vagas na final para os 16 melhores jogadores nacionais no ranking da FIFA - sim, a FIFA e a UEFA também levam isto a sério. Mas não faltarão outros torneios durante e época, como a Taça de Portugal ou a Supertaça e provas dedicadas ao PES.
Quem também se dedica bastante ao FIFA são os futebolistas profissionais, provavelmente na demonstração mais forte de como o mundo real e virtual se complementam. O futebol nunca os cansa e o eletrónico é presença assídua nos passatempos e até nas horas que antecedem os jogos no relvado.
Portugal é medalha de bronze na prova inter-nações. O e-Europeu foi um sucesso
É também através destas figuras que se tenta fomentar a prática da modalidade e que o comando é um complemento das chuteiras e não um substituto, ao mesmo tempo que os adeptos se aproximam dos craques.
O Diogo Jota Challenge ou o Rúben Neves Challenge foram desafios lançados pela FPF que puseram o vencedor num "mano a mano" com os internacionais portugueses, assim como a Liga, que também promove um campeonato de e-football, colocou jogadores da I Liga e jogarem FIFA, no início de pandemia. De facto, nem a crise sanitária joga contra os e-sports, porque permitem toda a interação e comunicação no conforto do lar, mesmo que estas provas consigam, facilmente, encher as bancadas de um pavilhão.
Todos os clubes da I Liga e vários da segunda têm equipas de e-sports.
Quanto à novíssima Playstation 5, a sua introdução nas competições, tanto no âmbito nacional como no internacional, fica para mais tarde, para dar tempo e possibilidade aos jogadores de fazerem a transição de plataforma.
FIFA e UEFA apostam forte
Outra inequívoca demonstração do impacto e abrangência do e-football passa pela FIFA e pela UEFA. O organismo que gere o futebol mundial tem (em FIFA claro...), uma prova a título individual (e-World Cup), uma competição entre clubes (e-Club World Cup) e outra entre seleções (e-Nations Cup).
A primeira é a mais antiga, desde 2004 e a e-Nations a mais recente, mas já tem marca portuguesa: a seleção portuguesa de futebol virtual, em estreia a competir, logrou o terceiro lugar na edição de 2019, conquistada pela seleção francesa e disputada entre pares. Repetir a presença na fase final de 2021 é um objetivo assumido pela equipa comandada por Armando Vale. Mas já em 2011, Francisco Cruz, que hoje é treinador do Sporting e promove aulas de FIFA, consagrou-se como o primeiro e único português vencedor da e-World Cup.
O incentivo à prática desportiva e à cultura de valores como respeito e competição sadia são metas inegociáveis
Numa aposta cada vez mais forte e abrangente, também a UEFA abraçou o mundo do futebol virtual, mas desta feita através do PES, o simulador da Konami. Em 2021, vai realizar-se o segundo europeu de futebol virtual (e-Euro 2021), para o qual a seleção nacional também procurará o apuramento. As finais estão marcadas para julho, no Estádio de Wembley (Londres), na véspera do recinto acolher a final do Euro 2021. A primeira edição, desenrolada este ano, foi considerada um sucesso, com mais de 15 milhões de pessoas a terem assistido às partidas da competição, ganha pela Itália.
No portal da UEFA, além dos resumos das partidas do e-Euro 2020, tal e qual como os da Liga dos Campeões ou de outras provas do organismo, também estão disponíveis vídeos com instruções para recriar na consola certos golos de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, se bem que às vezes parece que são eles que ligam a consola em pleno relvado...
TRÊS QUESTõES A RAUL FARIA (coordenador da E-Football da FPF)
1 - De que forma a consola é um desafio à prática da modalidade?
- O desafio está na adaptação a cada época ao desenvolvimento tecnológico. Esta época, o lançamento das consolas de nova geração lançaram a questão de quando seria feita a transição e as entidades nacionais e internacionais decidiram não a realizar esta época, dando assim tempo para que os jogadores possam transitar com mais calma.
Mais de 15 milhões de pessoas assistiram aos jogos do e-Euro"2020, que a Itália venceu
2 - Ainda há estigmas sobre o gaming?
-Sim, ainda há muitos. Uma das missões da FPF é ser um exemplo, ao incutir os mesmos valores reconhecidos no futebol, futsal e futebol de praia. Queremos que os jogadores tenham práticas saudáveis e sejam um exemplo. Para reforçar esta missão, a FPF está a trabalhar com a sua Unidade de Saúde e Performance para fazer um acompanhamento à modalidade e respetivos atletas.
3 - Demonstrações de mau perder ou frustração são punidas?
-Existem sempre momentos menos felizes, onde por vezes a organização tem que intervir com punições, mas os casos têm sido raros. Os jogadores têm uma mentalidade muito madura. A FPF tem tido uma grande aproximação com todos os agentes e ajuda a criar um ambiente de transparência e respeito. Mas há imensos desafios, sobretudo na melhoria dos regulamentos para que sejam cada vez mais justos e possam controlar uma prática que já tem o seu próprio árbitro. Casos de cheats (batota), integridade e match fixing estão presentes e precisam de ser combatidos.
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