A figura da SAD, por si só, não é um inimigo da sustentabilidade — existem bons e maus exemplos em todo o mundo. No entanto, a Académica dificilmente terá uma segunda oportunidade caso embarque num projeto mal preparado ou mal negociado
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A Académica vive tempos decisivos e, como sempre em momentos de viragem, surgem propostas e visões divergentes. Uma das mais discutidas é a eventual transformação da SDUQ em SAD, como se a simples mudança de regime jurídico fosse, por si só, uma solução mágica para os problemas estruturais que enfrentamos. Não é. E não pode ser
esse o nosso ponto de partida.
Não se pode fugir à realidade: a SDUQ – enquanto entidade que gere o futebol profissional, que assegura a remuneração de jogadores e staff técnico – enfrenta uma estrutura de receitas altamente limitada. No entanto, é injusto e intelectualmente desonesto não reconhecer os progressos que já se encontram patentes no Relatório e Contas de 2023/24 da SDUQ. Progressos em áreas chave, onde destaco, por exemplo, o aumento das receitas de patrocínio, um sinal claro de que a marca “Académica” ainda tem valor.
Antes de decidir se devemos ou não mudar o regime jurídico, temos de valorizar verdadeiramente a marca Académica. Criar propostas atrativas para parceiros comerciais, melhorar a comunicação, apostar na formação e construir equipas competitivas que atraiam adeptos e receita.
Hoje, quando os resultados consolidados da Académica começam a dar sinais de melhoria, não devemos ser preguiçosos, desbaratar o clube e esperar que a mudança venha de fora para dentro, executada por outros. Há que fazer o contrário. Correr atrás de soluções rápidas é o caminho fácil. Difícil – e necessário – é trabalhar todos os dias para transformar a Académica numa instituição moderna, profissional e
autossustentável. Esse é o desafio e esse tem de ser o nosso compromisso.
É por isso que encaro com profunda preocupação o facto de algumas listas candidatas à direção apresentarem como prioridade a constituição de uma SAD que prevê, desde logo, a alienação de uma percentagem significativa do clube num momento particularmente sensível, em que o trabalho de recuperação e valorização ainda decorre, e em que a Académica não está valorizada, ainda longe do seu ponto mais forte e atrativo. Vender agora é abdicar do futuro. É comprometer um projeto que está finalmente a dar sinais de maturação.
A figura da SAD, por si só, não é um inimigo da sustentabilidade — existem bons e maus exemplos em todo o mundo. No entanto, a Académica dificilmente terá uma segunda oportunidade caso embarque num projeto mal preparado ou mal negociado. Se o profissionalismo for apenas importado, sem raiz interna, estaremos a construir um edifício sem alicerces. O pressuposto fundamental é este: a mudança tem de nascer de dentro — com estrutura, competência e visão — antes de qualquer abertura ao exterior.
Viva a Académica.
*Sócio 2830 da Academica. Candidato a secretário da Mesa da Assembleia Geral pela lista B